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«O IPG não pode ficar à espera do Governo»

O presidente do Politécnico acha que a integração na UBI «não é, só por si, a solução» para o futuro do IPG, mas pode ser um contributo para mudar o estado de coisas. Álvaro Amaro pede cautela e espera que o Instituto não seja «uma cobaia» neste processo.

A fusão do Instituto Politécnico da Guarda com a Universidade da Beira Interior (UBI) é «uma possibilidade que devemos estudar», considera Constantino Rei. Na sessão solene de abertura do ano letivo, realizada na passada quinta-feira, o presidente do IPG esclareceu que nada está ainda decidido mas avisou que este é um passo que tem que ser dado.

Perante uma plateia de professores, estudantes e representantes institucionais, o responsável admitiu que a criação deste consórcio «não é, só por si, a solução» para a falta de alunos e para o futuro do Politécnico guardense, «mas pode contribuir para ela». Por isso, «não podemos ficar à espera que o Governo decida, pois não faz sentido manter as coisas como estão», afirmou, dizendo discordar «de quem pensa que é melhor esperar, a ver o que acontece». A reestruturação da rede de ensino superior na Beira Interior, que também envolve o Politécnico de Castelo Branco, tem que ser decidida até ao final do ano, no entanto, no seu discurso, o presidente do Instituto guardense deixou claro que esse passo só pode concretizar-se se for o Estado a coordenar a reorganização e se o ensino politécnico e o universitário estiverem numa «base de igualdade». Na sua opinião, «as parcerias constroem-se, não se impõem, e só são eficazes se os parceiros reconhecerem as especificidades de cada um».

Além disso, essa eventual agregação deve potenciar a fixação de população e contribuir para o desenvolvimento da região. Contudo, o presidente do Instituto admitiu que esse entendimento não basta, será também preciso que o Estado aprove medidas de «discriminação positiva», como bolsas «que fomentem a deslocação de alunos para o interior», uma majoração de benefícios fiscais para as empresas que contratem estudantes dos Politécnico, a criação de centros de investigação e a manutenção dos numerus clausus. Presente na cerimónia, Álvaro Amaro pediu cautela no processo de fusão com a UBI tendo em conta «o silêncio» do Politécnico de Castelo Branco e a ausência do Governo neste debate. «O ministério delegou nas instituições que encontrem uma solução e não tem dado o seu contributo», estranhou o presidente da Câmara da Guarda, dizendo esperar que o IPG não seja «uma cobaia». De resto, o edil sublinhou que o município «tem que ter uma voz ativa» num processo em que se disponibilizou a participar «ativamente».

Por sua vez, Sérgio Machado, presidente da Associação Académica da Guarda, reiterou a mensagem deixada na véspera, na sua tomada de posse: «Temos dúvidas sobre a integração na UBI, pois a Guarda e o IPG não se podem dar ao luxo de perder mais», declarou.

Presidente «insatisfeito e desiludido»

Nesta sessão, a última do mandato de Constantino Rei à frente do IPG, o presidente manifestou-se «insatisfeito e desiludido» com o rumo que o ensino superior está a tomar em Portugal, e no interior em particular. «Estou cansado de ouvir, sistematicamente, dos decisores políticos da necessidade de olhar com especial atenção para o interior do país, mas não consigo encontrar uma só medida ou ação que possamos classificar de discriminatoriamente positiva. É um discurso que fica muito bem, mas não passa disso», afirmou. O professor de Economia queixou-se mesmo de não ter «margem de manobra» para fazer mais na instituição e de se sentir «cada vez mais um funcionário administrativo», classificando de «ridículo o excesso de formalismos» da administração central.

Constantino Rei também criticou a central de compras do Estado, que «impede o IPG de comprar consumíveis e serviços a empresas da Guarda», e revelou que desconhece o orçamento do IPG para 2014. Entretanto, a direção do Politécnico apresentou as conclusões do estudo sobre “A influência do IPG na região da Guarda”, segundo o qual o Instituto tem «um volume de negócio apurado de 30 milhões de euros» na economia local e gerou cerca de 1.600 empregos. «Por cada euro que o Estado investe no IPG, há dois euros que são gerados na economia local», disse Miguel Salgado, um dos autores do trabalho, para quem «é indiscutível» que o IPG tem «um papel fundamental na sustentabilidade da região».

Luis Martins Constantino Rei, à esquerda, considera que «as parcerias constroem-se, não se impõem, e só são eficazes se os parceiros reconhecerem as especificidades de cada um»

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