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«O IPG não é meu, nem de duas ou três pessoas em particular, é de todos e todos temos que trabalhar para o dignificar»

Constantino Rei, único candidato à presidência do Instituto Politécnico da Guarda

P – É uma surpresa ser candidato único a esta eleição?

R – É, esperava que houvesse mais candidatos tendo em conta os últimos actos eleitorais. Mas há que reconhecer que, do ponto de vista institucional, se calhar é bom para o Politécnico da Guarda que haja, finalmente, um pouco de calma e não mais um período de “lavagem de roupa suja” nos jornais.

P – O Estado tem reduzido as transferências financeiras. Vai exigir mais dinheiro ou gerir o que tem?

R – Este ano houve um “balão de oxigénio”, com o chamado contrato de confiança, e se se mantiverem estes níveis de financiamento, penso que não haverá necessidade de reivindicar mais dinheiro porque vivemos um contexto difícil e não seria sensato estar a reclamar. Penso que temos os meios suficientes para podermos trabalhar com o mínimo de qualidade.

P – O IPG também vai apertar o cinto?

R – Já apertamos o cinto há muito tempo. Há um ano que estamos a fazer uma grande racionalização em termos de custos e já diminuímos os gastos mensais em mais de 50 por cento nalgumas áreas, caso da segurança e vigilância, em que reduzimos a despesa mensal em mais de 60 por cento comparativamente ao ano passado. Trata-se de colocar o mercado em concorrência, mas também de racionalizar os nossos recursos.

P – O que vai acontecer aos projectos da Escola Superior de Saúde, do pavilhão desportivo da ESECD e da residência de estudantes em Seia?

R – São projectos que não dependem exclusivamente de nós, pois o IPG não tem capacidade financeira para os concretizar, além de que alguns deles necessitam de uma aprovação preliminar do próprio ministério. A nossa estratégia é candidatar algumas obras ao QREN, possivelmente em Outubro, e temos estado a trabalhar para apresentar à tutela o chamado programa preliminar e obter os pareceres necessários. Além disso, necessitaremos também do compromisso dos poderes políticos, nomeadamente do ministério, para cobrir os 30 por cento que caberiam ao Instituto suportar.

P – Há outros projectos que gostaria de desenvolver neste mandato?

R – Vamos resolver os problemas da Escola Superior de Saúde, que não tem condições dignas nalgumas áreas para o ensino de qualidade, e das residências, mas muito mais importante do que essas obras é a aposta num projecto imaterial. Para mim, a implementação de um sistema interno de garantia de qualidade é o grande projecto do mandato. Acabou o tempo em que havia candidatos em grande quantidade para todos os cursos, pelo que temos que apostar na qualidade e não na massificação. Não podemos imaginar que o IPG vai ter de repente mais 500 ou 600 novos alunos todos os anos e continuar a crescer, isso não é viável. Portanto, temos que nos preparar para fazer bem aquilo que temos feito até aqui e poder responder à fase de expansão que há-de chegar, nomeadamente com o efeito da escolaridade obrigatória e não só. Além disso, trata-se também de uma exigência da tutela. Hoje, temos uma Agência de Acreditação do Ensino Superior que avalia todos os cursos e esta entidade que nos diz que devemos desenvolver sistemas de garantia de qualidade porque, além das vantagens internas, isso facilitará o seu trabalho de avaliação. De acordo com a lei, os procedimentos de criação dos cursos podem ser simplificados e facilitados para as instituições que tiverem estes sistemas.

P – O que é que isso implica concretamente?

R – Significa, desde logo, um sistema organizacional de rigor e exigência, mas também a sistematização de todos os procedimentos e termos indicadores para avaliar e monitorizar todos os processos, não só os de ensino. Isto é, temos que saber permanentemente as taxas de diplomados, qual a colocação no mercado de trabalho, o grau de satisfação dos alunos ou o estado dos nossos recursos financeiros e o nível de internacionalização da instituição. No fundo, trata-se de avaliar continuamente se estamos aquém ou acima dos nossos objectivos, pois não podemos gerir o dia-a-dia e só fazer contas no final do ano. Esse tempo já acabou, agora é preciso traçar objectivos ambiciosos e ter mecanismos para os monitorizar e implementar. Evidentemente que, do ponto de vista material, isso passa por investir na qualificação dos professores. A nossa aposta serão os doutorados ou especialistas, sendo que queremos continuar a ser um politécnico e não uma universidade, pelo que devemos trazer para o Instituto a experiência profissional das pessoas e das empresas. Isso significa ter uma miscelânea de pessoas com carreira académica – e que façam o seu doutoramento – e um conjunto significativo de especialistas, gente que se mantém activa no mercado de trabalho.

P – Isso vai implicar, por exemplo, alterações nos cursos leccionados no IPG de forma a se adaptarem ao mercado de trabalho da região?

R – Esse é outro objectivo do sistema interno de garantia de qualidade, ao permitir aferir em cada momento se determinado curso continua a responder a uma necessidade do mercado de trabalho. O objectivo de termos esses indicadores é tomar decisões, que passam logicamente por encerrar cursos se for o caso ou de abrir novas formações quando se justificarem.

P – Acha que a criação de consórcios regionais de politécnicos são uma solução?

R – Não sei exactamente qual é a abrangência desse conceito, mas, na minha opinião, o necessário e importante é que as instituições de ensino superior, nomeadamente as da região, cooperem e colaborem entre si para criar massa crítica e desenvolver projectos que possam ter um contributo significativo para a região.

P – Em que áreas é que o IPG vai crescer?

R – A curto prazo não vai haver alteração significativa das regras de criação de cursos e do número de vagas. Actualmente, se quisermos abrir uma nova formação temos que encerrar outra já existente. O IPG tem em carteira dois cursos que estão justamente condicionados por isso. A prioridade não é apostar nas licenciaturas, mas não deixaremos de o fazer se pudermos, em particular na Escola Superior de Saúde, que necessita de, pelo menos, uma nova formação e vamos tentar que seja uma realidade no próximo ano. Já nas outras escolas, nesta altura, parece-me não ser importante haver novos cursos de primeiro ciclo por causa daquela limitação, mas também por estarmos num contexto de excesso de oferta. A nossa aposta vai para as pós-graduações e os mestrados.

P – Os Cursos de Especialização Tecnológica (CET) são uma oportunidade para os politécnicos ou um “presente envenenado”?

R – Sou responsável pela introdução dos CET no IPG, já que a única escola que ministrava CET’s até ao ano passado era a ESTG. Não estou nada arrependido desta opção, hoje há cerca de 200 alunos naqueles cursos, pelo que pergunto se o Instituto e a cidade os dispensavam. Não percebo alguns estigmas relativamente aos CET’s, até porque muitos desses alunos prosseguem depois os seus estudos no Politécnico. Em média, cerca de 20 a 25 por cento vão para a licenciatura todos os anos. Portanto, com os CET estamos também a criar procura para os nossos cursos. Para mim, eles são claramente uma oportunidade que temos que aproveitar, até porque a missão dos politécnicos é o ensino profissionalizante. Por isso, o IPG deve apostar forte neles e é o que estamos e vamos fazer se nos quisermos manter vivos, a nós instituição e à cidade.

P – O que está mal no Politécnico?

R – Não vejo que haja uma área específica que se possa dizer que está mal. O IPG tem fragilidades e alguns pontos fracos que tem que ultrapassar. São eles a formação do corpo docente, que não é ainda a que desejaríamos. Perdeu-se demasiado tempo nalgumas escolas ao não se apostar na formação dos docentes, nomeadamente ao nível do doutoramento, é um atraso que temos que recuperar. Todos temos responsabilidades tanto os dirigentes por não incentivarem, como os professores por não se auto-motivarem. Além disso, houve também algum imobilismo de certas pessoas por não ambicionarem mais na sua formação. Em consequência, a área da investigação, em particular aquela que se traduz na prestação de serviços de alto valor às empresas, ainda é claramente insuficiente, embora tenha vindo a crescer. Outro ponto fraco é a internacionalização, mas o vice-presidente Fernando Neves tem feito um trabalho brilhante, pois começámos do zero. Há quatro anos não havia no IPG nenhum aluno estrangeiro e raramente um estudante nosso saía para fora do país. Agora, temos continuamente algumas dezenas de estudantes estrangeiros.

P – E o que é que está bem?

R – Desde logo, o facto da instituição ter adquirido paz e tranquilidade para as pessoas poderem trabalhar e concentrarem-se naquilo que é importante. Também se tem notado nos últimos tempos um forte empenhamento e motivação dos docentes, que se inscreveram nos doutoramentos e têm dado a cara pela instituição. Além disso, temos outras condições, como as instalações, equipamentos e o relacionamento com os alunos, que temos que potenciar e aproveitar. Mas temos ainda desequilíbrios muito grandes entre escolas, sobretudo na quantidade de professores. Nos últimos dois anos houve uma sangria muito forte, alguns saíram por não corresponderem às expectativas, outros por dificuldades orçamentais – estamos a falar numa diferença de um milhão de euros de um ano para o outro –, pelo que também precisamos contratar novos docentes que tragam mais-valias, até por causa dos mestrados e das novas formações.

P – O que vai mudar consigo na presidência?

R – Quando falo em continuidade é na perspectiva de que, no último ano, houve coisas que foram feitas e que decorrem daquilo que é também o meu entendimento pessoal e o meu contributo. É evidente que há formas diferentes de trabalhar, mas o que espero, fundamentalmente, é que as pessoas estejam motivadas e empenhadas e percebam que esta casa não é minha, nem de duas ou três pessoas em particular, é de todos e todos temos que trabalhar incessantemente para a dignificar.

P – Mas concretamente, o que se propõe fazer?

R – A chave do sucesso deste mandato será o sistema interno de garantia de qualidade, pois torna-nos mais rigorosos e mais empenhados no êxito da instituição. Além disso, haverá uma grande abertura à comunidade, uma grande capacidade de trabalho e de diálogo, pois, sozinho, o presidente do IPG não faz rigorosamente nada. Esse foi o problema que afectou o Instituto durante muitos anos, porque as pessoas estavam desmotivadas. Eu quero ser o líder que faça com que as pessoas me acompanhem e se empenhem, ficarei feliz se conseguir isso. Temos que olhar para o passado para não repetir os mesmos erros, contudo, não acho que tenha sido responsabilidade do presidente querer fazer as coisas sozinho, mas antes de todos, por não percebermos que só todos juntos conseguimos fazer alguma coisa.

P – O relacionamento com a autarquia já teve melhores dias. De quem é a culpa e o que vai fazer para mudar as coisas?

R – Todos somos responsáveis pelo menos bom relacionamento entre a Câmara e o IPG. O que garanto é que o Instituto estará sempre e incondicionalmente aberto a colaborar com a autarquia. De forma alguma estas instituições podem estar de costas voltadas. Tenho a certeza que, da parte da Câmara e do seu presidente, haverá essa abertura para colocarmos de lado qualquer divergência.

P – Não receia que o facto de ter integrado uma candidatura adversária do actual presidente nas últimas autárquicas possa criar problemas nesse relacionamento?

R – De forma alguma, seria muito grave se isso acontecesse. Sou um cidadão independente, não tenho filiação partidária e não tenciono ter, o que posso garantir é que a política partidária não entrará na presidência do Instituto. De resto, quero recordar que estive numa lista com o engenheiro Valente quando concorreu à Câmara de Celorico da Beira, pelo que não acho que isso vá influenciar o nosso relacionamento.

P – Mas olhando para trás, acha que o IPG foi ou tem sido prejudicado pela política/políticos?

R – Foi influenciado positiva e negativamente por motivações políticas ou partidárias. Mas não podemos olhar constantemente para o passado para justificar a nossa actuação actual ou futura.

P – Aquando do processo de elaboração dos novos estatutos do IPG, alguns docentes alegaram que o presidente passava a ter poder absoluto? Na sua opinião, tem poder a mais ou a menos?

R – Com a nova legislação, nenhuma escola do IPG tem condições para ter autonomia financeira, o que significa que o poder é concentrado no presidente, no Conselho de Gestão ou nos órgãos centrais do Instituto. Essa concentração decorre das opções do legislador. No nosso caso, tratou-se de encontrar – e bem – um modelo organizacional interno mais adequado para esta nova forma de trabalhar. Faz algum sentido eleger um director e depois não lhe delegarmos competências? Isso seria potenciar as guerras. Não estou nada arrependido das opções que fizemos, temos é que aperfeiçoar este modelo. Ser o presidente a escolher os directores das escolas – ainda que tenha que os levar a Conselho Geral – significa que queremos que o IPG seja gerido por uma equipa, que é a única forma de trabalharmos e de ultrapassarmos os tais problemas do passado.

P – Vai haver mais aumentos de propinas, desde logo no próximo ano?

R – O assunto já foi discutido internamente e, em princípio, não haverá aumentos no próximo ano lectivo. Julgo que será inevitável que aconteça no seguinte, até porque estamos com valores bastante abaixo da média das outras instituições. Esta opção é o reconhecimento de que estamos num ano muito complicado para as famílias, até porque sentimos a dificuldade que a alguns alunos já têm em cumprir com o pagamento das propinas.

P – Quem serão os seus vice-presidentes?

R – É uma matéria pós-eleitoral, mas se este é um projecto de continuidade, é normal que haja também continuidade de algumas pessoas e alguma renovação.

«O IPG não é meu, nem de duas ou três
        pessoas em particular, é de todos e todos temos que trabalhar
        para o dignificar»

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