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«O interior também é Portugal»

Esperança e coesão territorial foram as palavras que marcaram os discursos da cerimónia de boas vindas ao Presidente da República

«O interior também é Portugal. É um Portugal diferente, mas é Portugal», sublinhou Álvaro Amaro na sessão de boas vindas ao Presidente da República, na passada segunda-feira, na Câmara da Guarda. O anfitrião das comemorações do 10 de junho aproveitou a oportunidade para apelar a Cavaco Silva que faça a «intervenção que se impõe» pela coesão territorial e nacional.

A manhã foi de festa e solenidade. Depois de hastear a bandeira na Praça Velha e de homenagear os antigos combatentes no Jardim José de Lemos, o chefe de Estado seguiu a pé até aos Paços do Concelho entre centenas de crianças, que não se cansaram de gritar por Portugal naquele que foi o momento mais informal destas comemorações. Lá dentro, o presidente da Câmara alertou que o interior precisa mais do que promessas e discursos. «Todos os diagnósticos estão feitos e apesar disso a tendência mantém-se – o interior é cada vez mais interior, com menos gente, mais desertificado e menos desenvolvido», afirmou o edil, avisando que se não se para a massificação do litoral haverá dois problemas para resolver: «O problema do interior a desaparecer e o problema do litoral a romper pelas costuras. Daí ao caos, à exclusão social e à violência vai um passo curto», sentenciou Álvaro Amaro, para quem, por isso, o desenvolvimento do interior é «uma questão nacional».

E acrescentou que «não temos grande autoridade para reivindicar mais competitividade e solidariedade da Europa se não formos capazes de a praticar cá dentro». No seu discurso, o presidente do município desafiou ainda o chefe de Estado a ser o impulsionador de um «projeto de esperança» para o país. «Hoje quase não se fala de esperança em Portugal. Fala-se de défice, de credores, de dívida, de impostos, de investimento e de exportações. Tudo isso é importante. Mas decisivo mesmo é falar de esperança», afirmou Álvaro Amaro. O autarca reconheceu que o país precisa «de um projeto que mobilize os setores mais dinâmicos da sociedade» e que «não deixe à margem do progresso as vítimas maiores» da crise. «Um projeto em que se pense menos nas próximas eleições e mais nas próximas gerações. Um projeto que seja económico, social e cultural, mas que seja, antes de mais, um projeto de esperança», reiterou o edil.

Cavaco diz que «temos de encontrar o rumo certo»

O antigo secretário de Estado da Agricultura de Cavaco Silva também não esqueceu o momento atual da política nacional. «Estamos a repetir os erros da Iª República. Os portugueses gostam de viver em democracia mas estão cansados dos abusos que se fazem em nome da democracia. É tempo de reformar a vivência política, a cultura política e o sistema político», sugeriu Álvaro Amaro, referindo-se a «vícios estruturais preocupantes» e a alguns políticos que «passam o tempo a prometer e a não cumprir o que antes prometeram». Por sua vez, o Presidente da República disse ser «fundamental que evitemos erros passados, para que no futuro as novas gerações não tenham de voltar a fazer os mesmos sacrifícios». Na sua intervenção, Cavaco Silva afirmou que «temos de, em conjunto, encontrar o rumo certo para o nosso país e o rumo certo não pode deixar de incluir a coesão territorial». Nesse sentido, o chefe de Estado disse esperar que o novo quadro financeiro comunitário, que vigora entre 2014 e 2020, «lance um novo olhar sobre os problemas e as potencialidades do interior do nosso país».

O Presidente aludiu ainda ao “Quintal Medroso”, um jardim labirinto existente na cidade, para falar do receio que «o desconhecimento pelo caminho a seguir» pode incutir nos portugueses. Contudo, disse acreditar que agora, «finalmente, vemos para onde nos devemos dirigir e com os olhos postos no futuro temos de reencontrar no presente o rumo certo para o país», concluiu. Cavaco Silva evocou também a sua recente visita a Macau, mas para partilhar o comentário de um empresário local que disse que os chineses precisam de respirar ar puro e que o poderiam fazer na Guarda, que foi há alguns anos a primeira “Cidade Bioclimática Ibérica”. Nesta cerimónia, o Presidente da República a Medalha de Ouro e foi nomeado cidadão honorário da Guarda.

Luis Martins Cavaco Silva cumprimentou alguns populares na Rua do Comércio

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