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«O grande problema do distrito é o do envelhecimento da classe médica»

Entrevista – Cara a Cara

P – É hoje inaugurada uma nova sede do Conselho Distrital da Ordem dos Médicos. Para que vai servir?

R – Destina-se a satisfazer as necessidades de todos os médicos do distrito, mesmo aqueles que eventualmente não têm o seu domicílio nesta área. Recentemente pedi as listagens dos inscritos no distrito e constatei que muitos dos médicos que aqui trabalham mantêm a residência nos sítios onde estavam antes. Portanto, qualquer trabalho sobre o número de médicos existentes no distrito da Guarda fica sempre aquém da realidade, porque só são mencionados os que estão inscritos, mas trabalham cá muitos mais. Neste momento, temos 273 médicos inscritos, mas há alguns que conheço cujo nome não consta da lista. Esta é uma das coisas que vamos tentar corrigir. A sede da Ordem dos Médicos tem ainda como finalidade permitir que os médicos tratem de assuntos da sua vida profissional. Vai estar aberta todos os dias da parte da tarde, tal como acontecia na antiga sede, que funcionou numa casa arrendada desde 1995. Não há razão nenhuma para estar aberta todo o dia, já que mesmo assim ela é muito pouco procurada pelos médicos. A antiga sede registava longos períodos de semanas ou meses em que não ia lá um único médico. É o “divórcio”.

P – Em sua opinião a que se fica a dever esse “divórcio”?

R – Talvez por causa da vida agitada dos dias de hoje, mas também devido à falta de hábitos. Agora, com a sede nova na zona histórica da cidade e com outras condições que não tinha a antiga, esperamos que – e foi esse um dos motivos que nos levou a avançar para um novo espaço – passe a ter mais frequência e que se consiga até promover algum tipo de actividades que possa atrair as pessoas.

P – O que é que a nova sede oferece de diferente?

R – Para além de ser um espaço próprio, oferece melhores condições de habitabilidade e de convívio e, pela sua localização no centro da cidade, também é mais acessível. Será mais fácil as pessoas deslocarem-se ali a pé do que na sede onde estivemos durante estes anos todos.

P – Quais são os maiores problemas com que os médicos do distrito se debatem?

R – O grande problema do distrito, e não só, é o do envelhecimento da classe médica. Isso preocupa-nos a todos, porque, em termos percentuais, o distrito da Guarda no rácio médico/doente é dos melhores do país. Não há grande carência no número de clínicos em termos genéricos, embora, por exemplo, no hospital façam falta umas largas dezenas.

P – Quais as principais actividades que a sua equipa tem desenvolvido?

R – Muita coisa. Uma que não teve grande continuidade, mas que vamos reactivar, são as visitas regulares a todos os Centros de Saúde. Começámos por fazer visitas a alguns, onde tivemos reuniões com os médicos, porque concluímos que era mais fácil ser o Conselho Distrital a deslocar-se em vez de virem os médicos concelhios à sede da Ordem. Outra coisa que fizemos, também com algum impacto, foi facultar a todos os médicos do distrito a vinda, uma vez por mês, de um advogado para que os profissionais o pudessem consultar sobre problemas de trabalho e de eventuais conflitos que possam surgir. Outra actividade que organizámos com alguma regularidade foram as sessões clínicas na sede. Cedemos as instalações à indústria farmacêutica e têm-se feito várias reuniões científicas. Também estamos abertos à comunidade civil. Já recebemos vários grupos de deputados nas campanhas eleitorais e alguns utentes que acharam que tinham razão de queixa em relação a determinados médicos e que nos quiseram colocar questões concretas de situações pontuais que surgiram. Portanto, estamos abertos a qualquer pessoa que queira colocar alguma questão à Ordem, não só para dizer mal, mas também para dizer bem, se for caso disso.

P – Vai haver eleições em Novembro deste ano. Vai recandidatar-se ao cargo que ocupa?

R – Sim, vou recandidatar-me. Não é um assunto tabu.

P – Como é que vê a integração dos alunos da Faculdade de Ciências da Saúde da Universidade da Beira Interior no Hospital da Guarda?

R – Tem sido muito agradável. Já tenho um “feed-back” por parte dos alunos de que gostaram de estar cá. De resto, é importante que os médicos com alguns anos de serviço sejam desafiados para estarem actualizados. Portanto, o convívio com os mais jovens também contribui para a formação contínua, o que é extremamente importante para os mais velhos. Mesmo a informação que tenho, não directamente dos alunos, mas de pessoas até estranhas ao Hospital, é a de que o da Guarda foi aquele onde mais gostaram de estar dos três hospitais onde estiveram. O que me envaidece um pouco como director do serviço de Medicina, que foi onde eles estiveram.

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