Arquivo

O governo em estado de “Citius”

Crónica Política

Há motivos para falar mais uma vez da perda das populações rurais, particularmente na perda direta de cuidados de enfermagem. Esta deve-se à carência de enfermeiros. Interrogo-me da passividade dos presidentes das Juntas de Freguesia que não reivindicam a presença de enfermeiros para dar resposta às necessidades das suas populações, quando falta uma rede de transportes públicos que as sirva e há o flagelo social do desemprego.

Outro motivo: Volvido mais de mês depois do início do ano letivo a situação nas escolas continua caótica e o desempenho do Ministério da Educação, a começar pelo do titular da pasta, Nuno Crato – que tanto persiste em avaliar os professores –, é o que se pode chamar de autêntico desastre. De erro em erro, de desculpa em desculpa, de promessa em promessa, Crato e serviçais vão afundando os esteios da escola pública, dando o dito por não dito, passando responsabilidades para quem estiver mais a jeito, criando novos problemas e sacudindo a água do capote. Refiro, por exemplo, a perda de alunos do público para o privado, como aconteceu no Centro Escolar da Sequeira, mas aqui também responsabilizo os pais que deveriam lutar unidos e não cada um encontrar a “bóia” para o seu filho. A defesa da escola pública também passa pela atitude dos pais e encarregados de educação que se alheiam da participação. Não venham com os argumentos que basta elegerem representantes dos pais para o Conselho Geral, etc., etc. Hoje, mais do que nunca a democracia participativa no seio das escolas traduz-se numa correlação de forças ocultas cimentadas nos pequenos poderes da terra e que mais não são do que um espelho dos que paulatinamente tentam denegrir os esteios da autonomia da escola pública e dos seus profissionais com espelho na qualidade do ensino. Por conseguinte, os alunos é que sofrem as consequências. Pelo menos, escolham os que dão provas no dia-a-dia.

Felizmente ainda há a dignidade de muitos diretores das escolas, quando o ministério tentou passar-lhe as obrigações da anulação das colocações. Crato, com a prepotência que o caracteriza, afirmou que o processo de recolocação de professores estava no bom caminho. Sinto-me triste por ouvir alguns docentes perante a dignidade de muitos dos seus colegas de não se submeterem à Prova de Avaliação De Conhecimentos e Capacidades – PACC – mas que por esta via lhes garantiu um posto de trabalho, sem critérios de efetiva transparência da sua colocação.

O caminho está claro. Querem acabar com um modelo de contratação pública, assente nos moldes da transparência, onde todos sabem em que tabuleiro se joga. Começaram com a contratação de escola, qualquer dia terminam onde? Não há desculpas, havendo milhares de professores no desemprego, alunos que ainda não conhecem o (s) seu (s) professor (es), o folhetim do «esperar» que quando o processo estiver concluído «tenham colocação», os docentes colocados e depois descolocados devido aos erros do Ministério.

Basta desta política premeditada na destruição da Escola Pública. Com o mesmo despudor deste governo que anunciou em setembro que o ano letivo se iniciava com normalidade, e com a mesma falta de vergonha com que um elemento deste governo remete para «os tribunais» eventuais pedidos de indemnização de quem se sentir lesado, porventura apostando no estado de Citius reinante nos tribunais, onde mais uma mente “brilhante” diz que está tudo na normalidade e resta-lhe pedir desculpa. Entretanto, foi encerrando tribunais no interior.

Enquanto isso, caros leitores do jornal O INTERIOR, o interesse “mais importante” dos alunos pauta-se por centenas de professores e auxiliares de ação educação em falta, falta de psicólogos, terapeutas da fala e demais técnicos essenciais ao apoio a milhares de crianças e jovens com necessidades educativas especiais. O resto é sobejamente conhecido de todos.

Perante o descalabro, o incompetente Passos Coelho garante que Crato continuará no Governo e o Presidente da República não encontra motivo para o mais pequeno e leve reparo. Peculiaridades da “normalidade” à portuguesa, onde a responsabilidade última são os que escolhem estes senhores para nos desgovernar.

Por: Honorato Robalo

Sobre o autor

Leave a Reply