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O General Cavaco

«… toda a gente o conhece. Já votaram nele. Já o insultaram. Já o amaram. Já o contestaram. Mas uma coisa é certa. Cavaco Silva é o que é, não o que querem que ele seja. É ele o general que (verdadeiramente) comanda as tropas, não é um cata-vento fardado só para se manter no poder (…) Entre sargentos, e um general na reserva, só Cavaco Silva tinha o perfil de líder».

Quando os exércitos andavam em combate, dizia-se que andavam em campanha. Por analogia a outras “campanhas”, ainda há quem veja a política como um jogo de guerra. No entanto, prefiro chamar-lhe um jogo de estratégia. A guerra é algo de físico e animal. A estratégia é um patamar mais elevado, que exige inteligência e disciplina mental. É aqui que se distinguem os generais da tropa fandanga!

Mas mesmo entre homens de elevada patente, diferentes estratégias levam a diferentes consagrações. E, sublinhe-se, poucos são generais de cinco estrelas. É por isso que, quando Portugal procura candidatos para a presidência da república, em que se exige um general de indubitável valor, as opções de escolha foram limitadas.

O PS teve de socorrer-se de um general idoso. Tem ao peito todas as medalhas que podia ambicionar. Mas apesar da sua invejável vitalidade, este general de muitas campanhas, merecia e merece já o descanso do guerreiro.

Os outros, apostaram em sargentos que ambicionam subir na patente, mas não mais que sargentos…. Só Cavaco Silva mostrou estar à altura da batalha. Por isso, reuniu o seu exército e os soldados que debandaram de outros tropas, para combater ao seu lado!

Mas o que fez com que o odiado Cavaco Silva, fosse agora o desejado?

Voltamos à política como estratégia. Podemos definir se queremos travar uma batalha ou uma guerra. Ou seja, se ambicionamos um localizado projecto político ou uma carreira de longo curso.

Os mais jovens políticos têm o futuro à sua frente mas parecem ser os mais ávidos de poder. Querem resultados imediatos. Outros olham para o dia de hoje mas com o olhar no horizonte do depois de amanhã. Não gerem, lideram.

Existem duas escolas em confronto. Para os que querem resultados imediatos, o marketing estuda o mercado, vê o que o ‘povo’ deseja e afina a estratégia em função das tendências e das sondagens. Para os que apostam numa carreira, o ponto de partida são sempre as suas ideias e a sua genuína forma de ser. Depois, conseguir que o ‘povo’ – a tal massa anónima – o aceite e lhe dê a sua confiança.

A primeira escola oferece resultados rápidos. Vejam os casos de Guterres ou até de Santana. O problema é que, quando temos uma estratégia assente nos desejos do ‘povo’, é como construir uma casa em areias. Já a parábola de Cristo nos alertava para os deuses de pés de barro. Quem vive de tendências tem obrigatoriamente que mudar com as tendências e – em política – perde credibilidade!

Por seu lado, outros definem uma estratégia. Gizam o seu caminho. Umas vezes são compreendidos, outras vezes são odiados. Umas vezes as suas ideias são aceites, outras vezes reprovadas. Umas vezes assumem desafios, e em outras ocasiões fazem retiradas estratégicas. Umas vezes vencem, outras perdem. Mas as pessoas sabem sempre com o que contam. Está é a estratégia de longo curso dos generais de cinco estrelas.

Cavaco toda a gente o conhece. Já votaram nele. Já o insultaram. Já o amaram. Já o contestaram. Mas uma coisa é certa. Cavaco Silva é o que é, não o que querem que ele seja. É ele o general que (verdadeiramente) comanda as tropas, não é um cata-vento fardado só para se manter o poder.

Mesmo quem não gosta dele, sabe o que ele é – com as suas limitações e defeitos, e sabem com o que podem contar. É isso que pesou na decisão do passado domingo.

As pessoas perguntaram-se: quem vamos escolher? Entre sargentos, e um general na reserva, só Cavaco Silva tinha o perfil de líder. Pelo seu perfil de seriedade. Pela sua integridade. E mesmo até… com as suas fragilidades!

Por: João Morgado

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