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«O futuro da agricultura terá que passar pela produção integrada»

Cara a Cara – Entrevista

Perfil:

– José Assunção

– Presidente da direcção da AAPIM

– Naturalidade: Castanheira, Guarda

– Idade: 47 anos

– Profissão: Engenheiro Agrário

– Currículo: Fundador e presidente da Federação Nacional das Associações de Agricultura Sustentável de Protecção e Produção Integradas

– Hobbies: Desporto: esqui e BTT

P- Em que consiste esta associação?

R- A AAPIM tem como objectivo prestar apoio técnico ao agricultor neste método de produção que é a protecção e produção integrada. Um conceito universalmente aceite através da Organização Internacional de Luta Biológica de Protecção e Produção Integrada, onde está definido o que é e para que serve. Vamos junto do agricultor e explicamos-lhe na prática esta ciência da agricultura.

P- Como é que aparece?

R – Da necessidade de alterarmos esta situação. Era necessário preocuparmo-nos com a saúde pública e o ambiente. Este método de produção agrícola produz sem agredir o ambiente e os alimentos que consumimos são controlados, não contêm pesticidas e quando têm são autorizados. Todos os anos sai uma listagem do Ministério da Agricultura e de Bruxelas sobre os produtos que podem ser utilizados ou não. Além da formação que damos ao agricultor, ele tem um caderno de campo onde escreve tudo o que se passa na sua exploração. O produto que sai da protecção integrada tem uma rastribilidade desde que nasce até que chega ao consumidor.

P- Mas o que é isso de produção integrada?

R- É a produção de alimentos com controlo de pesticidas e de nitratos, tendo em conta a protecção do ambiente e a defesa do consumidor, porque muitas vezes nem pesticidas leva. Temos um controlo sobre a estimativa do risco e o nível económico de ataque que o agricultor aprende a ver na sua terra, para que saiba quando é que é mesmo preciso tratar ou não.

P- Quantos associados tem a AAPIM?

R- Tem 680 entre a Guarda, Castelo Branco, Viseu e uma franja do distrito de Coimbra.

P- É fácil fazer a mudança para o agricultor?

R- Houve algumas dificuldades, porque o que tinha menos conhecimentos era o que achava que sabia mais e tinha dificuldade em aceitar a informação técnica. Mas tivemos que fazer campos de demonstração para eles verem na prática e foram acreditando. Temos 15 técnicos superiores a trabalhar no terreno com eles. Para as grandes empresas foi mais fácil e temos muitas de fruta na Cova da Beira, das vinhas do Douro e as grandes casas do Dão que são nossas associadas.

P- Quais os produtos abrangidos?

R- Uva, maçã, pêssego e a azeitona, que entrou há pouco tempo.

P- Qual a diferença entre os pesticidas normais e os recomendados pela AAPIM?

R- Os normais podem não sê-lo, enquanto que os da AAPIM têm que ser acreditados pelo Ministério da Agricultura, através da Direcção-Geral da Protecção destas culturas, que define quais são os produtos que se podem utilizar em protecção integrada. É um método fiscalizado por inspectores do Ministério da Agricultura que vão ao local interrogar o agricultor. São também colhidas amostras dos produtos e analisadas quimicamente para ver se foi utilizado algum produto diferente. Se for, tem sanções ao nível interno e ao nível das agro-ambientais, porque quem usa este método tem uma ajuda anual na ordem dos 450 euros por hectare.

P- Como vê o futuro desta produção em Portugal?

R- A AAPIM tem 10 anos, está acreditada a nível nacional e internacional, tem projectos de investigação, instrumentação e desenvolvimento com a UTAD, Escola Superior Agrária de Castelo Branco, Direcção Geral da Protecção das Culturas, DRABI, Estação de Melhoramento de Plantas, entre outras, e o futuro tem que passar forçosamente por isto. Hoje é impossível pensarmos na agricultura sem nos preocuparmos com o ambiente e com a saúde publica. A agricultura terá que ter feita por aqui.

P- Qual a diferença entre a produção biológica e esta?

R- Na biológica não é permitido utilizar produtos de síntese e na integrada é, desde que sejam controlados e autorizados só para casos específicos. De resto o modelo é praticamente o mesmo.

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