Se as mulheres ocidentais quiserem um exemplo de como era a condição feminina na Europa do Século XIX, podem procurá-lo por exemplo na Arábia Saudita do nosso tempo. Sem direito a voto, impedidas de aceder às universidades, à magistratura, a cargos públicos de relevo, ao poder em geral, sem direito à escolha sequer dos homens com quem se casam, as mulheres são pouco mais do que escravas, ou objectos.
Entre nós já não acontece o mesmo. As nossas mulheres conquistaram direitos e estão pouco a pouco a ocupar o seu lugar na sociedade. Parecia, há uns anos atrás, que se ia atingir um absoluto e natural equilíbrio entre os géneros em todos os sectores da sociedade. Parecia inevitável que passasse a haver tantas magistradas, médicas, engenheiras, como magistrados, médicos ou engenheiros. A verdade é que isso aconteceu e, surpresa, começou a verificar-se que as mulheres começavam a suplantar, e de longe, os homens em número nos níveis superiores do nosso sistema de ensino.
Para testar a minha tese, fui ao site da Escola Superior de Educação da Guarda verificar os admitidos em pós-graduações e mestrados (http://www.ipg.pt/ese/evento.asp?ev=70). Verifiquei assim que em Administração Social foram admitidas 20 mulheres e 4 homens, em Gerontologia Social 42 mulheres e 11 homens, em Educação Sexual na Escola e na Comunidade 14 mulheres e 4 homens, em Intervenção Social em Crianças e Jovens em Risco Social 20 mulheres e nem um homem para amostra. Total: 96 mulheres e 19 homens.
Podem dizer-me que isto é natural numa escola superior de educação, tradicionalmente com maior peso feminino, o que tem alguma razão de ser. Mas vamos então ver o que se passa na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, um tradicional feudo de esmagadora maioria masculina. Numa rápida analise (ver dados completos em http://www.fct.uc.pt/), verifiquei que em 1998 tinham iniciado provas de doutoramento 24 mulheres e 51 homens. Em 2005, já havia 35 mulheres para 45 homens. Não tarda que elas fiquem em maioria também ali, depois de verem diminuir o rácio (homem/mulher) de 2,12 para 1,28 em apenas sete anos.
Não tarda que fiquem reservados à metade masculina do nosso pais os trabalhos pior remunerados e de menos prestígio, como sendo os que se encontram na construção civil ou na indústria transformadora. Ou na politica.
Perante tudo isto, quem acham que vai passar a mandar às claras (que na sombra foram sempre elas), mais tarde ou mais cedo?
Inquietações (uma só, mas boa):
O Lobo Mau: Conta Carolina Salgado que uma noite ela e Pinto da Costa brincaram ao Lobo Mau e ao Capuchinho Vermelho até às quatro da manhã. A coisa tem graça, embora discorde da oportunidade de contar a história. É que há coisas que ficariam melhor entre o casal, que é onde pertencem. Perante o que está a acontecer, com a abertura ou reabertura de processos judiciais, com o esgotar sucessivo das edições do livro de Carolina Salgado, com o rebentamento de um escândalo de proporções descomunais, interrogo-me: quem fez mesmo de Capuchinho Vermelho?
Por: António Ferreira