Arquivo

O fim de um império

Editorial

O fim do Banco Espirito Santo não passa indiferente a ninguém. 150 anos depois da sua fundação, o segundo maior banco português, braço financeiro de um imenso grupo empresarial, com interesses em quase todo o mundo e cujo líder ao longo dos últimos 22 anos tinha poder sobre tudo e todos, é liquidado através de uma divisão promovida pelo Banco de Portugal em dois – o banco “mau” e o Novo Banco.

Passam para o Novo Banco todos os trabalhadores do BES, todas as agências, os depósitos, os clientes e os clientes de créditos e ainda os detentores de obrigações seniores. Isto foi o que ficámos a saber logo após o anúncio da “solução” de domingo. A fórmula encontrada para evitar males maiores foi considerada como “boa”, inclusive pelos socialistas. Segunda-feira, confirmou-se que foi aceite pela generalidade dos clientes a divisão e que os clientes e trabalhadores, serenamente, nada obstaram à solução definida (apesar de os jornalistas se terem esforçado por encontrar escaramuças e gritos nas agências, inclusive na Guarda, na verdade, a generalidade dos clientes estava impávida e serena perante o desenrolar dos acontecimentos).

A solução encontrada pelo Banco de Portugal, aparentemente, foi a melhor. Porém, e para lá dos trabalhadores, dos depositantes e clientes, dos riscos sistémicos, dos Espirito Santo e outros que tais, há os acionistas, em especial os que há pouco mais de um mês participaram no aumento de capital em mais de mil milhões de euros, com garantias das autoridades de que o investimento no BES era seguro. Mas afinal não era! E agora? Ficaram sem o ativo que compraram!!! Ou seja, são acionistas de um grupo que perdeu o seu principal ativo (o banco) e que está à beira do colapso económico e financeiro – a quem devem pedir responsabilidades? Se a solução foi a possível, e porventura a melhor, dela resulta um enorme imbróglio judicial de que muito iremos ouvir falar: os pequenos e os grandes acionistas tudo farão para ser ressarcidos e os processos em tribunal irão ser em catadupa. No final, ou o Novo Banco é reorganizado e vendido rapidamente ou provavelmente o resultado será bem pior para as contas públicas portuguesas do que aquilo que se imaginaria. Mas ficará sempre uma questão: se não se encontrasse esta solução que alternativa teria sido preferível? Fazer como no BPN, em que o Estado ficou com o banco descapitalizado enquanto os acionistas ficaram com os bons ativos da SLN? Deixar o BES (e o grupo) ir à falência, encerrando um dos maiores bancos portugueses, mandando para casa milhares de trabalhadores e promovendo uma gigantesca crise financeira com réplicas por outras paragens? Ou nacionalizar tudo, com o Estado a ter de injetar milhões até tapar todos os buracos? Parece-me que foi melhor ficarmos por este modelo de intervenção controlada pelo Banco de Portugal e participada pela banca, com crédito do Estado. Esperemos que pelo meio não haja mais alguma surpresa. E que entretanto as responsabilidades sejam apuradas e os culpados por tamanho golpe paguem com a sua fortuna pessoal a forma como delapidaram o colosso Espirito Santo.

Luis Baptista-Martins

Sobre o autor

Leave a Reply