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O fim de um ano mau

Editorial

1. O ano de 2013 não deixa grandes recordações. Ainda assim, há alguns momentos de destaque e situações que merecem registo.

Este foi o ano em que os portugueses suplantaram a dura prova da austeridade, não que seja assunto do passado, mas a adaptação às novas circunstâncias permitem ver uma luz ao fundo do túnel da crise – há um ano nem o túnel se via. Os sacrifícios impostos pelo memorando negociado com a troika aquando do resgate em 2011foram muitos e pareciam não ter fim, mas a capacidade e determinação dos portugueses, evidenciada durante um ano de dificuldades, deverá permitir um 2014 com alguns resultados positivos. Recuperar a esperança, mesmo que sem espaço para grandes sonhos, é o mínimo que se pode esperar e exigir depois de tanto esforço. É esta a grande expetativa para o novo ano, depois de todos os cortes, sem espaço para grandes ambições, mas com o regresso de algum alento para nos reerguermos.

Os pessimistas podem ver apenas sinais negativos e os otimistas um excesso de sinais positivos, mas a verdade é que para além dos dados que durante todo o ano impressionaram negativamente, como a taxa de desemprego histórica, as falências e o empobrecimento generalizado, 2013 é o ano em que aprendemos a viver numa nova realidade. E apesar de muitos pensarem que é apenas mais uma crise e que depois do ciclo negativo virá de novo um tempo de crescimento, a verdade é que este é um ciclo longo e diferente: nada será como antes. E quem estiver à espera que tudo se “normalizará” em breve, está muito enganado e ainda não percebeu que a mudança é estruturante, para um novo paradigma.

Este foi o ano em que quem se adaptou é vencedor.

2. A figura do ano de 2013, na região das Beiras e Serra da Estrela, foi Álvaro Amaro. Depois de quase 40 anos de governação socialista na Câmara da Guarda, o antigo edil de Gouveia conquistou um feudo do PS de forma arrasadora. Os socialistas da Guarda vão agora ter um penoso e longo caminho para recuperarem credibilidade e protagonismo que lhes permita regressar ao poder… daqui a oito anos. Ou mais.

Também são figuras do ano os novos autarcas da região. Em especial os que, para além da vitória eleitoral, têm de interpretar a sua própria vitória como um desejo de metamorfose e transformação social nos respetivos concelhos – em Trancoso, que foi sempre um município de direita e onde Júlio Sarmento liderava há 26 anos; ou Aguiar da Beira, que historicamente era alvo da disputa entre PSD e CDS, e onde o PS ficava à margem, mas que agora venceu (ainda que com um rosto independente); ou em Figueira de Castelo Rodrigo onde o PSD dominava desde 1976, tal como em Fornos de Algodres; e ainda todos os outros autarcas eleitos e que, com as suas vitórias, mostram ser ganhadores neste tempo de mudança.

Em 2013 também foi relevante, em teros regionais, a inauguração do Data Center da PT na Covilhã, que poderá servir como alavanca mobilizadora de desenvolvimento. E não podemos deixar de referir a COFICAB que instala o seu centro de investigação e desenvolvimento em Vale de Estrela (e recebeu o prémio COTEC).

Negativamente, este foi um ano marcado pelo êxodo rural, pela fuga de jovens para o estrangeiro, uma emigração com “canudo” que o país pagou e de que outros países irão beneficiar. E, o pior do ano, as portagens – um atentado ao desenvolvimento do interior do país.

Votos de boas entradas. E bom ano.

Luis Baptista-Martins

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