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O “filho” da Associação Desportiva da Estação

Jogador Mário Pina vive na sede do clube covilhanense desde os 15 anos

Há seis anos que Mário Pina veio para a Covilhã com o sonho de jogar futebol. Tudo aconteceu quando tinha 15 anos, quando os pais o mandaram sair da Guiné para fugir à guerra e ao clima de instabilidade que se vive naquele país. A sorte acabou por lhe bater à porta enquanto dava uns toques na bola com outros colegas junto ao Estádio do Lumiar, em Lisboa. «O empresário Basílio, do Porto, estava lá e propôs-nos jogar futebol numa equipa», recorda, tendo assim conseguido o “passaporte” para os juvenis da Associação Desportiva da Estação (ADE) através do actual presidente do Sporting da Covilhã, José Mendes.

Mário Pina vestiu a camisola da ADE pelos juvenis, juniores e chegou até a jogar na equipa sénior. E desde então tem feito da sede do clube da Estação a sua casa, apesar de já não poder jogar nas suas equipas jovens por ter atingido os 21 anos. Por “água abaixo” foi também, há duas épocas, a possibilidade de integrar o plantel sénior, uma vez que a direcção extinguiu a equipa por falta de verbas. Uma decisão que levou o jovem a jogar no Pedrógão na época passada. Mas nem por isso deixou de ser «o prato da casa» da ADE, graceja, visto que ainda se encontra a viver naquele local. «Graças a Deus que as pessoas me estão a ajudar. Não pago nada», adianta Mário Pina, acrescentando logo de seguida que deve «tudo aos directores da ADE». Quanto à alimentação, o jovem jogador beneficia também da “boa vontade” do dono do restaurante Marinel, que lhe dá almoço e jantar todos os dias. «É como se fosse um pai para mim», salienta, ainda para mais quando se encontra completamente «sozinho» na Covilhã. «Tenho uma irmã em Lisboa e um irmão nos Açores. Mas a minha mãe e os meus outros irmãos continuam na Guiné», revela.

Se não fosse pelos amigos que já fez entretanto e pela namorada, «dificilmente conseguiria suportar a solidão que sinto às vezes», garante, admitindo ser «muito complicado» estar em Portugal sozinho. Contudo, Mário Pina diz-se orgulhoso em ser «completamente independente da família» desde os 15 anos e por ter alcançado os seus desejos. Por ora, o jovem encontra-se a treinar com o plantel do Sporting da Covilhã na esperança de poder ser admitido como jogador da equipa. «Estou a dar o meu melhor para tentar agradar ao treinador e ao presidente do clube», indica, apesar de não ter «certezas de nada». Até porque o facto de ser estrangeiro limita-lhe as possibilidades: «O Covilhã tem três estrangeiros neste momento e não sei se a direcção está interessada em apostar em mais um», refere, revelando estar já a tratar da sua naturalização. Uma tarefa que se tem revelado «muito complicada» por causa da burocracia, um “adversário” mais tenaz que um defesa contrário. Mas, por enquanto, o atleta canaliza as suas “forças” para os treinos dos “leões da Serra” e para conseguir ser jogador profissional.

Se não conseguir ficar no Sporting, já tem propostas de outros clubes distritais, pelo que «a esperança é a última a morrer», mesmo num mundo que se rege, na maior parte das vezes, «pela sorte». Entretanto, vai continuar a estudar para concluir o 12º ano na Escola Frei Heitor Pinto e poder um dia entrar na universidade, no curso de Comunicação Social. Solicitado por “O Interior”, José Mendes, presidente do Covilhã, admitiu ser bastante complicado ter mais um estrangeiro a jogar na equipa, até porque a vaga em aberto está «reservada para contratar um craque».

Liliana Correia

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