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O Feriado da Neve

O primeiro nevão da temporada encerrou escolas e estradas, levou a Guarda a abrir os telejornais, esvaziou repartições e empresas e encheu as ruas de crianças a brincar com a neve e de gente crescida com máquina fotográfica a tiracolo. Nada de novo. É verdade que o segundo nevão do ano vai ter exactamente o mesmo efeito, assim como o terceiro, o quarto e o quinto. Bem, talvez a televisão vá empurrando a notícia mais lá para diante mas vai haver sempre o caos nas ruas e nas estradas e o absentismo ao trabalho e às escolas.

É verdade que já não neva muito na Guarda e que as conversas sobre o clima, agora menos frequentes, versam sobretudo sobre o aquecimento global. É também verdade que nos últimos anos se perderam muitos dias de trabalho porque as ruas e as estradas da Guarda ficaram intransitáveis em dias de neve. A perda daqueles dias de trabalho, e dos muitos que certamente se seguirão, há muito que justificavam, e justificam ainda, que a Câmara Municipal tenha meios e estratégias para minimizar os efeitos de um nevão. Este último estava previsto há vários dias e teria sido fácil colocar de prevenção pessoas e equipamentos de limpeza de estradas, tudo de maneira a que hoje as crianças tivessem ido para a escola e os adultos para o emprego.

Sabe-se que um ano tem pouco mais de 220 dias úteis de trabalho, às vezes mais quando poucos feriados calham em fim-de-semana ou então bastante menos quando há muitos à terça ou quinta-feira. Exagerando um pouco, podemos dizer que cada dia em que se não trabalha diminui o PIB, reportando-nos àquela média de 220 dias de trabalho por ano, em cerca de 0,45%. Perante isto, que dizer dos nossos 15 dias feriados anuais, mais o municipal, por ano? Os dias de neve transformados em feriados têm o mesmo efeito negativo na produtividade geral e, por isso, por mais caro que pareça agora o investimento em equipamento de limpeza de neve (em pessoal não deve ser preciso), este seria rapidamente amortizado.

Não podemos é continuar a transigir com pretextos para não trabalhar e não dar condições aos que o querem fazer, quando a única saída para a actual crise do país vai passar precisamente por começarmos a trabalhar todos bastante mais.

Por: António Ferreira

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