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O Fabrico de Tecidos

Nos Cantos do Património

Quando falamos de comunidades humanas do III milénio a.C. que viveram no espaço que hoje ocupamos as dúvidas são muitas. Como viviam, o que comiam, quais as suas actividades? Escavações arqueológicas realizadas nos seus povoados permitem-nos algumas respostas. Uma delas prende-se com a tecelagem, a transformação das fibras animais ou vegetais em tecidos.

As primeiras evidências em território nacional desta prática foram encontradas em Monchique (Algarve), um tecido fabricado em linho, recuando a 2 500 a.C.

A lã utilizada no fabrico dos tecidos era obtida dos animais domésticos. As escavações arqueológicas permitiram comprovar que estas comunidades tinham diversos animais, entre os quais as ovelhas.

Uma das formas de identificarmos se a prática da tecelagem prende-se com a análise dos materiais arqueológicos, isto é, pelo estudo dos utensílios recolhidos nos locais podemos conhecer um pouco melhor as suas actividades. Entre o material cerâmico foram identificados pesos de tear, muito comuns nos povoados, efectuados a partir de argila ou pedra, em forma de paralelepípedo ou em crescente, cuja função seria esticar os fios do tear.

Temos ainda os cossoiros ou fusaiolas, mais raros que os anteriores, e correspondem a materiais com a forma de disco, com orifício central, construídos em argila ou pedra. No orifício central era colocado o fuso e através da sua rotação era obtido o fio.

No território da Beira Interior as evidências desta actividade são mais tardias, verificando-se que nos povoados começam a surgir apenas a partir do Calcolítico/Idade do Bronze, surgindo em maiores quantidades na Idade do Ferro. Mas, será que o facto de aqui ser um fenómeno mais tardio não poderá significar a utilização de materiais perecíveis?

No povoado da Pedra Aguda, sobranceiro à Aldeia Viçosa foram encontrados, aproximadamente à 100 anos atrás, diversos materiais arqueológicos, entre os quais um cossoiro, feito a partir de argila, de pasta grosseira, com cerca de 4cm de diâmetro e 2cm de espessura. Apesar de não possuirmos uma sequência estratigráfica para o sítio, atribuímos este artefacto à Idade do Ferro.

A presença deste cossoiro na Pedra Aguda tem uma grande importância, pois a tecelagem representa acima de tudo uma complexificação social, económica e cultural das sociedades humanas, cujo processo se inicia à quase 5 000 anos atrás em território nacional.

Por: Vítor Pereira

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