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O estigma do apoio psicológico

Dislexia e hiperactividade são os principais problemas que têm aparecido no centro de intervenção psicopedagógica

O João (nome fictício) tem oito anos e frequenta a segunda classe. No entanto, até há dois meses, tinha muito mau aproveitamento escolar, não estava concentrado nas aulas, portava-se mal e nunca concluía as tarefas. Hoje, o João ainda não é o melhor aluno na turma, mas está mais sossegado, motivado e interessado. As notas só se saberão no final do período escolar, mas segundo a professora o aluno está muito mais aplicado.

Às vezes são coisas simples que fazem a diferença. Basta o apoio de um especialista e algumas consultas de terapia para que fique tudo (ou quase tudo) resolvido. No caso do João, o problema foi identificado logo na primeira sessão. «A criança ainda dormia com os pais, o que se reflectia nos comportamentos mais inconstantes do seu quotidiano», explica Francisca Geraldes, responsável pela Psicofoz. Depois da avaliação, concluiu-se que seria preciso corrigir aquela situação, já que «uma criança com aquela idade deve dormir na sua cama, para se sentir autónoma e independente», adianta a psicóloga educacional. Em poucas sessões conseguiram-se «óptimos resultados», frisa a técnica, tendo em conta que o João já dorme no seu quarto, e «na escola está muito mais motivado e interessado». Agora a criança sente-se «mais valorizada no seu dia-a-dia», constata Francisca Geraldes. Foram dadas estratégias aos pais «para se criar a autonomia da criança e também houve uma articulação importante com a escola», aponta a psicóloga.

A Psicofoz é um Centro de Intervenção Psicopedagógica, que presta serviços nas áreas da psicologia e educação, intervindo junto de crianças, adolescentes, adultos e idosos. Desde Janeiro, que esta instituição privada, com sede na Figueira da Foz, abriu uma delegação na Guarda-Gare. «O desafio surgiu de um grupo de professoras do ensino especial, que constataram a falta de resposta desta área que existia nesta região», conta Francisca Geraldes. Apesar de estar em funcionamento há pouco tempo, «já temos alguns casos», revela a responsável. Até ao momento são só crianças, com uma faixa etária entre os 7 e 12 anos, que vêm encaminhadas pelas escolas. A dislexia, a hiperactividade e os problemas emocionais são os principais problemas que têm aparecido naquele Centro. «Às vezes, a culpa é dos pais que são demasiados exigentes, pois, hoje, tudo gira à volta das notas que as crianças têm», dá como exemplo. Também a terapia da fala é uma área muito procurada, principalmente, «por pais com filhos de três e quatro anos que ainda não falam», indica Francisca Geraldes, mas «com ajuda da terapeuta os sons começa a tomar forma e aperfeiçoam-se». Todos estes problemas têm solução, «alguns deles até são completamente ultrapassados», assegura a psicóloga.

No entanto, ainda se sente «algum estigma e receio em procurar apoio psicopedagógico, nomeadamente, no interior», sustenta a responsável, mas «pouco a pouco, isso vai desaparecendo», acredita. Além destas valências, o Centro dispõe ainda de terapia familiar, terapia ocupacional, acções de formação e sensibilização, orientação escolar e profissional, entre outras. Caso as pessoas não tenham recursos económicos suficientes para pagar as consultas podem ser subsidiadas pela Segurança Social.

Patrícia Correia

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