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O estado da Nação

Em tempo de debate parlamentar sobre o estado da Nação, os factos mais visíveis para caracterizar a situação são sempre os de natureza económica até porque são mensuráveis.

É nesta altura que se esgrimem números para ilustrar ou para criticar os resultados alcançados e, neste contexto, são as “percentagens” que desempenham um papel relevante na leitura política da situação. Ora quando a análise é feita com base em indicadores que têm estado estagnados, qualquer pequena variação resulta num significativo aumento percentual.

Por isso, o que interessaria era explicar o significado dos aumentos verificados, analisar o porquê da evolução, especificar o seu conteúdo e daí retirar ilações rigorosas. Nada disso. O que interessa mesmo é que o valor da percentagem soa bem, está matematicamente certo.

Provavelmente não tem qualquer sentido útil na vida dos cidadãos, mas não é isso que se procura, mas antes transmitir o sentimento de que algo está a melhorar. Não se está no mundo dos factos, mas das sensações.

Esta técnica de criar ilusões e de empolar a realidade tem reflexos mais graves noutros campos que não se traduzem em números. Neste ponto, o estado da Nação está muito pior do que parece.

Veja-se o que se passou recentemente com o Governo a contratar crianças para figurar num evento em que se anunciava a distribuição de computadores pelas escolas.

É um caso cuja gravidade é ainda maior por se tratar de uma iniciativa do Ministério da Educação em que os princípios e valores deviam ser preocupação dominante em toda a sua acção.

É uma instituição com a responsabilidade de formar e, como tal, devia dar o exemplo e atribuir mais importância aos conteúdos e aos valores do que às aparências.

O Ministério da Educação não pode fomentar a cultura do “faz-de-conta”, mas a da verdade.

Este estilo teatral de comunicar com os cidadãos faz com que acabada a representação, caia o pano e reste o vazio.

Por: Manuel Ferreira Leite

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