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O escultor de emoções

Opinião – Ovo de Colombo

Pedro Figueiredo nasceu na Guarda a 22 de outubro de 1974 e é um escultor de uma realidade própria, que generosamente partilha com o público. Estudou Cerâmica, Escultura e Comunicação Estética na Escola Artística de Coimbra (ARCA), onde atualmente leciona as cadeiras de Desenho e Escultura. Aos 38 anos conta já com inúmeras exposições individuais e coletivas, em Portugal e no estrangeiro, e com o reconhecimento do Prémio Revelação da XIIª Bienal de Arte de Vila Nova de Cerveira (2003).

A sua obra escultórica, apesar de figurativa, afasta-se da representação do real, remetendo-nos para um universo de sentimentos ou circunstâncias onde as associações são livres, o que é apenas possível quando se fala de Arte. Trata-se de escultura em parte conceptual, já que os seus corpos – à primeira vista “humanos” – são imagens de conceitos que o artista parcialmente revela através dos títulos das peças, ora quase místicos e misteriosos (“Energia”, “Liberdade”, “Triunfo”, “Sombra”), ora facilmente relacionáveis com a forma que vemos. Mas não totalmente conceptual, porque aqui a ideia e o conceito não são o que mais importa.

Na sua obra interessa também a imensa capacidade plástica e expressiva da resina de poliéster, o seu material de eleição, ao qual se mantém fiel. É este que usa para criar seres alongados e por vezes tribais, lembrando, de alguma forma, a linha do alemão Wilhelm Lehmbruck (1880-1919), que tratava o corpo humano como metáfora de espiritualidade. Segue igualmente a influência do suíço Alberto Giacometti (1901-1966), um dos escultores mais marcantes e decisivos do pós-IIª Guerra Mundial.

Assim, e recorrendo à estilização, à simplicidade, à desproporção e à distorção, Pedro Figueiredo presenteia-nos com figuras exageradamente verticais ou horizontais, assentes em pés ou mãos basilares que se salientam do restante organismo devido a uma presença agigantada e algo primitiva. Também adiciona, por vezes, esferas polidas em vermelho ou azul, que contrastam com a escuridão da resina, e representando animais que não representam animais, homens e mulheres que não retratam nenhum homem ou mulher que conheçamos, e até seres alados que não são pássaros nem anjos. É, se quisermos, um escultor de estados de espírito, de instantes e de emoções.

Diana Rafaela Pereira*

*Mestranda de História da Arte Portuguesa na Universidade do Porto

O escultor de emoções

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