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O elixir da eterna juventude

Suzanne Vega veio de Nova Iorque até ao TMG desfiar, numa noite, estórias de uma carreira com mais de 20 anos

É como se nada tivesse mudado. Suzanne Vega conserva a voz e a presença acanhada de uma menina quase mulher que, nos anos 80, “virou” coqueluche e embaixatriz de “Luka” – um dos maiores êxitos do final da década. Desta vez, a “songwriter” viajou até Portugal para dois concertos, um em Torres Novas e outro no Teatro Municipal da Guarda (TMG), na noite de quarta-feira.

Com casa quase cheia, Suzanne Vega desfiou, durante cerca de duas horas, um punhado de histórias – das mais recentes (do último disco “Beauty & Crime”) às canções mais antigas. No palco do grande auditório, a norte-americana foi de poucas palavras e surgiu acompanhada de uma guitarra num trio formado por um baixo (Mike Visceglia), uma bateria e, ocasionalmente, alguns samples (Doug Yowell). O resultado foi um espectáculo intimista, simples e quase minimalista. O público – um tanto ou quanto tímido – embarcou nesta viagem pelos últimos 20 anos de Suzanne Vega. “Stockings” (1985), retirado do seu primeiro disco, constituiu um dos primeiros convites à entrada na máquina do tempo. Logo depois, “Frank & Ava”, o “single” do último trabalho de originais, que relata os percalços da história de amor de Frank Sinatra e Ava Gardner. “Cracking” (1985), “Caramel” (1996), Gypsy (1987), “When Heroes goes down” (1992) e “Calypso” (1987) foram as estórias que se seguiram. Depois, novamente “Beauty & Crime”, com “Pornographer’s Dream” (2007).

A meio do espectáculo, a cantora pousou a guitarra para cantar “Left of the center” e “Room of the street” (1990). A palpitante “Blood makes noise” (1992) ou “The queen and the soldier” (1985), que arrancou uma série de aplausos da plateia, completou o alinhamento. O momento alto da noite chegou já quase no final, com os primeiros acordes de “Luka” e “Tom’s Dinner” (ambas de 1987). Já no encore, Suzanne Vega cantou “World before Columbus” (1996) e, a pedido de alguns corajosos do público, “Marlene on the wall” (1985). A viagem tinha chegado ao fim.

«Poeticamente belo»

Carlos Mesquita, de 50 anos, foi um dos mais entusiastas espectadores do concerto. Habituado a ouvir as canções de Suzanne Veja na rádio «há muitos anos», considera que a cantora não deixou os créditos por mãos alheias: «Foi um espectáculo poeticamente belo. Ela tem uma voz e um bom gosto musical maravilhosos», confessou à saída do TMG. Os trejeitos intimistas da menina de Nova Iorque conquistaram, aliás, a grande maioria da assistência. Dos mais velhos aos mais jovens. Sónia Pereira, de 27 anos, ficou surpreendida pela positiva: «Pareceu-me uma menina tímida, simples, mística e o espectáculo foi muito envolvente e sentimental», descreveu. Da Covilhã chegou Gina Barata: «Vim com a expectativa de perceber a evolução musical de uma carreira já longa», justificou, admitindo que as expectativas não foram defraudadas. «A Suzanne Vega canta sobre experiências quotidianas com muitos sentimentos envolvidos e creio que é essa habilidade que me aproxima do seu trabalho», referiu. «Agradou-me o facto de ter explicado sucintamente o que algumas músicas pretendiam dizer. Penso que foi um gesto de interesse pelo público o querer partilhar a origem do seu processo criativo», acrescentou a jovem.

Rosa Ramos

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