«Perdendo esta regalia de não existirem portagens na A25 e A23, a Guarda e o interior têm de ser compensados». A afirmação é do governador civil da Guarda, Santinho Pacheco, que apela a que «todos se unam, autarcas e deputados, independentemente da cor política» para reivindicar medidas de discriminação positiva para a região noutras questões, nomeadamente na da água.
«Ainda há pouco tempo eu dizia que não acreditava – e não acreditava mesmo – que haveria portagens nas auto-estradas do interior porque tinha a informação de que não era essa a intenção do Governo», afirma o governador civil, ao lamentar que o Governo tenha sido «obrigado a ceder às exigências do PSD». «O facto de não existirem portagens na A25 e A23 era, até aqui, atractiva em termos de investimento e, por isso, acho que o interior deve ser de alguma forma compensado», argumenta. Para o responsável, a região «precisa de medidas de discriminação positiva», sendo que no topo da sua lista de reivindicações está, para já, o preço da água: «Não podemos conceber que seja mais cara aqui do que em Lisboa», defende. «Ainda por cima não a pagamos mais cara por não a termos, até porque é daqui que ela vai, mas porque os custos de fornecimento e exploração de uma rede de águas na nossa zona é o dobro ou o triplo mais caro do que noutras com mais utentes», refere.
«Infelizmente, há mais utentes num prédio em Lisboa do que em muitas freguesias do distrito da Guarda», lamenta Santinho Pacheco, constatando que no interior os custos são também mais elevados devido aos «muitos metros de conduta que são necessários». «No concelho do Sabugal, por exemplo, há mais metros de conduta do que em Lisboa», compara. «Tem de haver alguma solidariedade nacional para com as terras mais deprimidas do interior», sublinha. A implementação de políticas de discriminação positiva é também defendida pelo presidente da Câmara de Trancoso. É por isso que está contra a introdução de portagens na A25 e A23: «Concordo em absoluto com o princípio do utilizador pagador, mas também não abdico de um outro, o da discriminação positiva em relação ao interior, o que me leva a ser contra a decisão», explica o social-democrata. Na opinião do autarca, a actual polémica em torno do fim das SCUT deve-se «à cultura do facilitismo do PS». «Semeou ventos ao criar as SCUT e agora colhe a tempestade», acrescenta.
Júlio Sarmento diz que o preocupa que «haja em Portugal falta de estabilidade das políticas nacionais», defendendo que os dois maiores partidos deveriam ser capazes de estabelecer «um pacto para uns 15 anos» em áreas estruturais para o país, como a Economia, a Saúde, a Educação, entre outros. «Infelizmente o que vemos é que os dois partidos têm posições diferentes quando estão no Governo e na oposição e que o que há são jogos político-partidários», lamenta. Também o autarca da Mêda contesta o fim das SCUT do interior. «Se nos tivessem dito, antes de as construírem, que só poderíamos ter as auto-estradas se fossem portajadas, logicamente que diríamos que sim porque nessa altura só nos interessava ter estradas melhores e chegar mais depressa aos destinos», sustenta Armando Carneiro, para quem «é agora complicado para as populações aceitarem o fim dessa benesse». O edil socialista antevê que a introdução de portagens vai «prejudicar e muito» as empresas, aumentando os custos de produção. «Além disso não temos estradas boas para serem alternativa», constata. Ao nível da afluência de pessoas à região, Armando Carneiro diz estar convicto que «as pessoas que têm de viajar pelo interior, o farão na mesma».