Num ano dum descabido manifesto, parece que a propósito das palavras públicas de um excelente homem de bem, de cultura e atitude religiosa que o impulsionam a desafios que egoisticamente omitiria, mas porque a fé e os problemas dos outros lhe tocam de perto o impulsionam a dizer, em ato que o país presenciou, viveu, conheceu, nomeadamente de responsável religioso, com laços apertados com a malha da área da solidariedade com os mais pobres e excluídos, alinhadas em corajosa e sincera homilia na verdade da defesa de princípios e valores cristãos, que a prática do bem exige e reclama, e que não se contempla com demissões,… entristecem algumas reações.
E parece-me insensato que outros responsáveis lhes deem continuidade com opiniões e análises, não pelo seu conteúdo, mas pela suposta antipatia pessoal do seu autor.
Não devia, pois, a questão ter sido posta publicamente com a profundidade de argumentos plausíveis, sustentados como o foi, evidente porque conhecida, relevando a ausência dos mesmos por parte de gestores políticos, dos quais saem medidas que quase se anunciam resumidas, reduzidas a uma argumentação falha de inteligência, que em nada são ofensivas porque retratam a crise, o endividamento insofismável do sector público, reflexo de excessos lastimáveis, mas a que a maioria dos portugueses são alheios?
Há até quem diga que a maior fatia decorre de empréstimos provocados pelo sector privado, decorrentes da chamada alavancagem de certos bancos.
Donde se assentar que os défices públicos de hoje podem afinal ser consequência e não causa da crise, tese que nunca vi desenvolvida pelos responsáveis.
E a existência dos elementos efetivos dessa realidade não permitem o escamotear de outras pretendidas razões num debate rigoroso, que impede que não se queira reconhecer que o resultado 2 provém de duas parcelas apenas: 1+1.
Há análises que não podem deixar de ser lidas, e devidamente registadas, pelo fundo de justiça de que se revestem.
Ora perante censuras justas e oportunas porque não acolhê-las com sabedoria e humildade, emendando-se a mão das soluções políticas erradas tomadas, substituindo-as por outras que as tenham em conta?
Se somos efeito e não… causa, penso que merecemos um pouco mais.
Daí o descontentamento de tantos…. «Eu, que cometo, insano e temerário,… Por alto mar, com vento tão contrário…» (Canto VII, “Os Lusíadas”).
João Castanho (Guarda), carta recebida por email