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O definhar do comércio no centro da Covilhã

Ruas Direita e Ruy Faleiro têm cerca de 20 lojas encerradas e no Sporting Shopping Center são mais 28

Longe vão os tempos em que o centro da Covilhã estava repleto de lojas abertas e o Sporting Shopping Center era o único centro comercial da cidade. Agora o cenário é outro. Quem passar pela Rua Direita encontra sete lojas fechadas, enquanto que na outra artéria imediatamente a seguir para quem sobe, a Ruy Faleiro, o número sobe para 12 e isto só até à primeira curva, numa distância de pouco mais de uma centena de metros. No centro comercial o cenário é ainda mais desolador e se o primeiro piso ainda regista algum movimento, o inferior está quase “às moscas”.

Começando o nosso périplo na Rua Comendador Campos Melo, mais conhecida por Rua Direita, surgem-nos logo lado a lado uma farmácia, com um letreiro que informa que está a ser alvo de obras desde 25 de outubro do ano passado, e um pequeno café, encerrado há vários anos. Mais à frente aparece outro café que também teve o mesmo destino, seguindo-se o antigo estabelecimento de móveis e decorações “Casa Diniz”. À sua volta há mais três lojas fechadas. Umas para arrendar, outras simplesmente de portas trancadas, algumas apresentando um ar pouco atraente para quem passa. Subindo, chegamos à Rua Ruy Faleiro, a do Teatro-Cine, onde praticamente de forma alternada há antigos estabelecimentos comerciais fechados de um lado e do outro. Ao todo são 12. No Largo 5 de Outubro, mesmo em frente ao Centro Comercial, encontramos as antigas instalações do Banco Santander e da Singer para além de outra loja fechada localizada junto ao Montepio. Para trás ficou mais outra loja encerrada próximo do Hotel Solneve. Chegados ao “Sporting”, se as lojas da entrada estão praticamente todas abertas, o panorama não é o mesmo quando prosseguimos o nosso trajeto. No primeiro piso são 13 as lojas fechadas, havendo até uma que informa que está disponível para arrendar por 350 euros. Já no piso inferior o cenário fica ainda mais “negro” com 15 lojas fechadas contra sete abertas, daí que Silvina Pinto, funcionária de uma dos poucos estabelecimentos resistentes, garanta que deixou de abrir o espaço aos sábados de tarde porque há outros dois comerciantes que fecham e tem «medo» porque fica «sozinha». «Desde novembro que estou aqui e não se vê aqui ninguém. A culpa é do presidente da Câmara porque não há estacionamento gratuito. Acho que o problema principal é esse porque há pessoas que dizem que não estão dispostas a pagar», indica. Familiar do proprietário da loja vê com «pena» a situação porque «estamos no centro da cidade, é o único shopping que existe e está assim nesta miséria». A comerciante garante mesmo que «há semanas inteiras» em que não vende «nada», admitindo que o futuro do negócio está «complicado».

Outra funcionária ouvida por O INTERIOR na Rua Ruy Faleiro garante que o comércio naquela zona «está cada vez mais parado», considerando que «os senhorios também querem muito dinheiro de renda e isso leva a que as pessoas fechem as lojas mais rapidamente». Manuela Esteves confirma que «nos últimos meses tem sido um fechar de lojas terrível nesta rua e já estão mais duas para fechar», indica, temendo um efeito de “bola de neve”, pois «quanto mais lojas fecharem, menos movimento há na rua», até porque «se houver menos oferta, menos afluência de pessoas vai haver». Bem mais otimista está uma funcionária de uma perfumaria da Rua Direita. Célia Mingote diz mesmo que «o argumento da falta de estacionamento gratuito não é válido» e que se nota é uma «mudança de hábitos das pessoas», exemplificando com o facto de «toda a gente ter um carro e telemóvel e o dinheiro não chega para tudo», adverte.

Já o presidente da Comissão Executiva da Associação Empresarial da Covilhã, Belmonte e Penamacor reconhece que o fecho de muitas lojas no centro da cidade é uma situação que levanta «muita preocupação» à entidade. Contudo, Miguel Bernardo remeteu uma posição mais sustentada para a próxima edição, em virtude de haver um «conjunto de circunstâncias» que poderão explicar o encerramento de estabelecimentos.

Ricardo Cordeiro Uma farmácia que está a ser alvo de obras e um café fechado há anos são o “cartão de visita” para quem chega à Rua Direita

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