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O contraponto

Editorial

1. No relatório semestral sobre a economia desta semana, o Fundo Monetário Internacional (FMI) reviu em baixa a sua previsão de crescimento para Portugal (de 1,2 para 1%), considerando que a economia nacional está a sofrer o impacto de um abrandamento generalizado no centro da Europa. Ainda assim, e estranhamente, Portugal é o único país entre os que foram sujeitos a um programa da troika a ficar agora com uma projeção de crescimento mais baixa do que a que tinha em abril. Pelo contrário, Irlanda e Espanha têm estimativas em subida comparativamente com as previsões anteriores. O abrandamento da zona euro, onde estão os principais clientes das exportações portuguesas, é o principal motivo para a deterioração das estimativas para Portugal.

Perante este cenário macro, o Governo português não tem muitas opções ou variáveis para contrariar previsões negativas e fugir a esta triste realidade. Porém, e depois do fracasso das medidas de austeridade, que promoveram o ajustamento sustentado no empobrecimento generalizado da população, é necessário reduzir a carga fiscal que sufoca os contribuintes – empresas e famílias. Depois de três anos de “memorando”, em que o agravamento fiscal nos coloca entre os países que pagam mais impostos no mundo, é necessário aliviar a pressão fiscal. Só com a redução de impostos poderá haver um ambiente económico positivo e com crescimento, ainda que à base do mercado interno. Enquanto os portugueses continuarem atordoados com tantos impostos e aterrorizados com medo do futuro (da falência, do desemprego, do incumprimento, dos bolsos vazios…) não haverá retoma económica.

2. As “primárias” do PS promoveram uma dinâmica extraordinária entre os socialistas e não só. António José Seguro perdeu, pois não teve argumentos nem capacidade para convencer as pessoas de que era o líder de que o país precisa (mas a história fará a justiça de lhe creditar a participação democrática conquistada com a abertura do partido à sociedade). Mas convenceu os socialistas da Guarda, o único distrito onde foi o mais votado. Pelo meio, os apoiantes de Seguro terão recorrido aos mais diversos expedientes para assegurar a vitória do seu candidato. Há quem fale em “chapelada”… mas o que houve foi uma grande capacidade de arregimentar, nomeadamente em Celorico da Beira e Foz Côa – onde terão orquestrado um esquema para levar os militantes e simpatizantes a votarem em Seguro às centenas.

Já António Costa depois de eleito de forma incontestável começou a pagar os apoios. Em vez de partir para a regeneração do PS e abrir caminho para conquistar Portugal, com novos rostos e novas dinâmicas, optou por entregar a liderança da bancada parlamentar ao ex-secretário geral Ferro Rodrigues. O PS bolorento levou António Costa em ombros até à vitória nas primárias, agora será Costa a ter de carregar com os históricos e barões do partido. Como aqui escrevi mais de uma vez, António Costa era o mais preparado para liderar o PS, e o país precisa dele, o problema é que anda muito mal rodeado – é o PS de Vara, de Pedroso ou de Jorge Coelho (o expoente máximo do sistema partidário dominante e dominado por interesses e negócios; ele foi o ministro das obras públicas de Guterres; ele foi o presidente da Mota-Engil, a maior construtora portuguesa; ele foi o organizador das eleições internas do PS…).

Luis Baptista-Martins

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