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O consumo de drogas na Pré-História

Nos Cantos do Património

Palco privilegiado para a apresentação e divulgação de trabalhos de investigação inéditos realizados em toda a Península, o “Encuentro de Jóvenes Investigadores sobre Bronce Final y Hierro en la Península Ibérica” serviu para se discutirem temas diversificados que iam desde o uso de objectos pelas comunidades humanas do primeiro milénio antes de Cristo, aos temas mais etéreos cujo registo arqueológico é quase nulo. Para além dos interessantes trabalhos da Guarda, um dos distritos mais representados no “Encuentro”, sobre alguns dos quais já nos debruçámos nesta mesma coluna, foram apresentadas outras comunicações que despertaram o interesse geral dos participantes.

Um dos trabalhos que mais despertou a curiosidade foi, precisamente, um relacionado com o consumo de drogas durante a Idade do Bronze e a Idade do Ferro apresentado por Elisa Guerra Doce. A jovem investigadora espanhola apresentou uma série de dados sobre o uso de substâncias vegetais psico-activas. Os participantes do encontro ficaram a saber, por exemplo, que num túmulo descoberto na Sibéria, datado do século IV antes de Cristo, pertencente aos Citas, havia um braseiro de cobre com sementes de marijuana no seu interior e um saco de couro com as mesmas sementes. Arqueologicamente comprovava-se aquilo que já se podia ler nos escritos do “Pai da História”, Heródoto de Halicarnasso que viveu no século V antes de Cristo. Heródoto, o grande viajante, escreveu:

“Os Citas pegam a semente do referido cânhamo, deslizam para debaixo dos toldos de lã e, de seguida, lançam a semente sobre pedras quentes. À medida que a vão atirando, a semente exala um perfume e produz tanto vapor que nenhum braseiro grego podia superar semelhante quantidade de fumo. Então os Citas, encantados com o banho de vapor, irrompem em gritos de alegria. Isto serve-lhes de banho, pois nunca lavam o corpo com água”.

Por outro lado, algumas comunidades do primeiro milénio antes de Cristo utilizavam a cannabis nos seus rituais fúnebres e, segundo a referida investigadora, também nos seus banquetes, como é sugerido por diversas referências escritas de autores antigos que falam do uso de uma planta de efeito euforizante. Por exemplo, nas proximidades do rio Douro, na necrópole do povoado Vaceo de Padilla de Duero, em Valladolid, descobriram-se vestígios do uso de elementos psico-activos. Numa rica sepultura, datada do século II antes da nossa era, encontraram-se vestígios de elementos psicotrópicos relacionados com uma personagem socialmente destacada. Nessa mesma sepultura encontraram-se, também, vestígios do uso de cerveja.

Já nesta mesma coluna escrevemos sobre o consumo de cerveja (O Interior, 21/03/03) e sobre os banquetes rituais realizados por populações que habitaram a Beira Interior durante o primeiro milénio antes de Cristo, como o demonstra o espeto em bronze encontrado no povoado da Cachouça, Idanha-a-Nova (O Interior, 07/03/03). A propósito desses antigos rituais já na Antiguidade Clássica o geógrafo grego Estrabão escreveu: “Os banquetes fazem-se em círculo e, na hora da bebida, dançam ao som da flauta e da trompeta”.

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