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O compromisso e a política

Crónica Política

Ao abordar a dimensão do compromisso político, ocorre-me a fundamentação teórica do poder político: decorre este da definição dos seus fins ou dos seus meios? Idealisticamente, política refere-se aos fins. Por isso, classicamente se diz que a política objetiva diz respeito à ordem e à felicidade geral da cidade ou da nação. Mas é a questão dos meios que, conforme advertem Maquiavel e Marx, nos colocam no caminho (método) mais desconcertante.

Assim valorizamos a dúvida e a pergunta como método e, vejamos, é ou não a isto que assistimos nos discursos dos políticos que preferem as afirmações bombásticas, sem réplicas e sem tréplicas. Preferem as metáforas às entrevistas abertas, os discursos pré-fabricados ao diálogo ao vivo. Preferem as frases forjadas pela indústria cultural que não admitem dúvidas. Preferem frases perentórias, absolutas, fechadas, autoritárias.

Considero que a fusão do compromisso político com a competência técnica, no momento atual, significa jamais compreender o quadro político em que se vive como um quadro avulso e separado do contexto geral, e sim como um momento de um processo demorado, de amadurecimento de uma profunda e sólida cultura democrática.

O grau da transparência social socializa as regras do jogo e enfoca a economia nacional e internacional, enterrando, definitivamente, uma tradicional cultura autoritária que tende a não desaparecer.

Por cá assistimos a um romantismo político que traz, felizmente, à cidade e a todo concelho um inegável saldo positivo. O primeiro decorre desta onda de festas que fazem honra aos santos populares e o segundo faz jus às festas dos padroeiros das nossas aldeias, que agora se assumem numa perspetiva global, isto é, mais alargadas em divulgação, participadas por comitivas e este ano, esperam-se duramente participadas por várias e diferentes comitivas eleitoralistas. É o juntar do útil com o necessário.

Ambientes festivos criados de forma quase endógena são o “sonho” para qualquer movimento de campanha eleitoral participar, pois já existe festa e as gentes já se reúnem por hábito, é só aparecer acompanhado à hora certa no local mais adequado, aproveitando o palco já montado para o grupo que fará a animação pela noite dentro e tudo corre bem… O discurso sempre repleto de citações, chavões que tocam o sentimento e o imaginário, sempre muito futurista, o passado é dos outros e o presente é de mudança e de crescimento envolto em alguma ilusão, o qb, pois já ninguém hoje está desinformado, depois de todos sentirmos nas nossas vidas os fortes constrangimentos.

O politico que não assume plenamente a sua função, a responsabilidade social do ato politico… e aparecem também as grandes verdades – quem manda é o povo, e é mesmo! O povo é que elege quem em seu nome vai governar, esperando que seja sempre de forma responsável, justa, isenta… Mas o que se assiste é que isso apenas conta no palco das festas quando dizem aos microfones, que fazem ampliar o som, depois muda tudo, depois quando esse mesmo som soa em sentido contrário, o já eleito político fica ofendido, magoado e às vezes exerce mesmo represálias sobre as vozes incómodas que teimam em soar.

Na verdade, estes “contratos” de 4 em 4 anos não são mais do que verdadeiros contratos a prazo, daí que quem está quer continuar a estar, primeiro porque nem sempre teve tempo para exequibilizar todas os seus compromissos e ambições politicas, depois porque…

O político que não assume plenamente a sua função e se exime da sua responsabilidade de governar para todos, para restringir-se apenas a alguns, será considerado asséptico, reducionista que reedita um passado no presente. Então aparecem homens comprometidos com uma política libertadora.

O voto é um ato de compromisso político ou um ato de compromisso com uma política?

No passado caminhamos seguros guiados por um cometa brilhante no céu: para nós todos, a distinção entre direita e esquerda era clara e insofismável; as dúvidas eram apenas levantadas por certos intelectuais que nos pareciam um pouco impertinentes. Mas, de repente, assim como aconteceu quando os reis magos chegaram a Belém, a estrela, referência e guia, desaparece no cenário da política atual. Por isso, hoje, torna-se urgente formular as perguntas: por onde continuar o caminho? De que compromissos políticos se tratam?

O exercício do poder não deve ser encarado como verbo, mas sim como substantivo.

Por: Cláudia Teixeira

* Militante do CDS-PP

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