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O complexo do Alemão

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Falo de um conglomerado de favelas, de um viver da inexistência, de um espaço onde se é mais feliz quando se termina e de um mundo tão estranho que se torna fantasia. O ataque da polícia e do exército brasileiro ocorre para pôr fim ao narcotráfico e à ausência de polícia nas favelas. Este é um princípio que demonstra a negligência e a ineficácia do Estado. Se em dez dias com mil homens se acaba um reinado de crime e banditismo, como explicar os anos em que tal não se fez? Como justificar os anos todos em que se utilizou o silêncio e o absentismo? A permissividade do Estado para com a fome, os que dormem na rua, os que ficam na beira da estrada sob exploração, os que abusam dos empregados demasiado jovens, os militares alcoólicos, os reincidentes na violência doméstica e outra… esse é o Estado que aqui se desnuda. A subida dos morros no complexo do Alemão leva muitas perguntas sobre o que se passou nos anos anteriores. Quem viveu disto tudo? Quem se “endinheirou” nesta miséria? Quem permitiu esta ausência de lei? Afinal, foi tão fácil conquistar o morro e aprisionar os criminosos. Claro que não falo do trabalho enorme que falta fazer, o de consolidar a lei, construir a ordem cívica, desenhar a urbanidade nesta colmeia, refazer o espaço das pessoas e construir os trilhos por onde lentamente as favelas se tornarão cidade “típica”. Os bairros nascerão dos morros e terão suas festas. Cumpra-se este destino e investigue-se a negligência.

Por: Diogo Cabrita

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