Por Maria de Lurdes Santos *
Os alimentos ligam-nos profundamente à Terra e recordam-nos diariamente a ligação ao milagre da vida. A maioria das religiões exige a consagração dos alimentos antes de serem transformados no sustento da vida.
A Humanidade começou a recolher e plantar sementes valiosas há mais de 10 mil anos, e tem transportado sementes de um lado para outro.
Cada semente (e cada planta) transporta o germoplasma, que contém, não só os genes, mas todas as qualidades especiais que controlam a herança, definem o modo como os genes funcionam e fixam os padrões através dos quais se combinam e expressam as suas características. A biotecnologia está a criar novas variedades de culturas. A manutenção da resistência genética exige a constante introdução de novas variedades de germoplasma, muitas das quais só se encontram em algumas reservas selvagens do mundo. Estes frágeis locais funcionam como enfermarias e reservatórios de robustez genética, vitalidade e resistência, mas todos eles correm agora sérios riscos com a construção de barragens hidroeléctricas, estradas, desflorestação, agricultura moderna, etc.
A intervenção no processo evolutivo, que controla a selecção das características genéticas que serão transmitidas de uma geração para outra, é uma das grandes inovações da História e, sem alguma interferência na evolução natural das plantas, a previsão da catástrofe feita por Malthus ter-se-ia certamente realizado.
No século XX, perdemos três quartos das espécies tradicionais de cultivo. Para conter essa perda vertiginosa de biodiversidade, institutos de pesquisa mantêm “ilhas” de preservação da diversidade genética, que garantem a sobrevivência de espécies usadas na alimentação e na extracção de matéria-prima.
O mais ambicioso desses projectos foi inaugurado em 2008 na Noruega, perto do Pólo Norte. Apelidado de “Cofre do Juízo Final”, uma “Arca de Noé Verde”, tem capacidade para armazenar 4,5 milhões de amostras de grãos, cuja meta é preservar a segurança alimentar mundial. São cópias de segurança da biodiversidade. Se algum desastre de grandes proporções vier a afectar a agricultura mundial, como mudanças climáticas, guerras, desastres naturais ou chuva radioactiva após uma guerra nuclear, os países poderão recorrer ao cofre para obter sementes e reiniciar a produção de alimentos.
Em Portugal foi criado em Braga, em 1977, o Banco Português de Germoplasma Vegetal, que contém todas as variedades de milho, leguminosas e frutas de Portugal, preservando, assim, o património genético nacional.
O património genético animal português fica salvaguardado em Santarém, no Banco Português de Germoplasma Animal.
* Professora