Um tipo normal, uma pessoa das nossas relações, tem um comportamento obsessivo, vigiando a mulher a cada instante, procurando sinais de infidelidade, hoje e ontem. No seu devaneio mais bizarro procura objetos do passado com anos, um espaço de que não fazia parte, onde não era ator. Mas ali connosco ele é normal. Ali perto de nós nunca lhe vimos mais que simpatia e bonomia. Mas notei que se telefonavam muito, mais de 10 vezes por dia. Notei que por vezes ela estava demasiado triste. Sei que o ciúme pode ser transversal, não escolher sexo, raça, profissão, religião. O Ciúme está sempre próximo da desconfiança, da falta de autoconfiança, do ciclo vicioso da incerteza e da suspeita. O que me espanta é saber que ela era agredida e nós não víamos, não percebíamos e não suspeitámos. Tínhamos sinais? Havia razões para desconfiar? Devíamos ter agido? A interferência no espaço dos outros é um enorme tabu que acarreta conflitos que desejamos longe. Está na mesma linha da nota de desagrado no carro de um vizinho, na crítica dos filhos da amiga, na irritação que o cão dos de cima nos provoca, na intempestividade da buzina na condução, na agressividade com que alguns respondem à crítica. O ciúme patológico é da família das alterações do comportamento? Das demências? Ele distorce a visão, desfoca a realidade, empurra para gestos com arrependimento garantido. O ciúme carrega dor e é um perigo, tal como a altercação na condução, como a luta pelo poder entre colegas. O ciúme patológico merecia mais estudos, mais vigilância e mais tratamentos compulsivos.
Por: Diogo Cabrita
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