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«O Ciclo de Teatro Universitário é um dos maiores eventos da Covilhã»

Cara a Cara – Rui Pires

P – Que balanço se pode fazer da 17ª edição do Ciclo de Teatro Universitário da Beira Interior?

R – O balanço é sempre positivo a partir do momento em que conseguimos reunir as condições para organizar um evento, seja qual for. Todos sabemos das dificuldades que há em fazer o que quer que seja. Acho que elas aumentam quando passamos para a área da cultura e do teatro, em particular. Se antes nos queixávamos que estávamos mal, agora, com todos os cortes e a crise, ainda mais nos queixamos e, por isso, só posso fazer um balanço positivo por termos conseguido realizar mais esta edição e já estamos a pensar na próxima, que espero que consigamos realizar.

P – O festival deste ano foi o que teve o orçamento mais baixo de sempre. Começa a ser cada vez mais difícil organizar o evento?

R – A dificuldade está sempre em conseguir financiamento para as despesas maiores, que são a alimentação e o alojamento. É claro que depois temos que cortar noutras coisas que, não sendo supérfluas, são menos importantes do ponto de vista organizacional, como a divulgação. Este ano, o menor investimento foi nessa parte. Se calhar isso acaba por nos prejudicar por não conseguirmos chegar a mais gente, não termos tanto público e é uma pena que se faça um esforço para fazer um evento desta natureza, que é um dos maiores, senão o maior na cidade da Covilhã e até na região, e depois não o promovemos como deve ser. Não há dinheiro para isso. Nesse sentido, apostámos muito nas redes sociais e na Internet.

P – De quanto foi o orçamento?

R – Rondou os 13 mil euros, foi o mais baixo de sempre e nunca imprimimos tão poucos suportes de divulgação e informação, o que, por um lado é mau, porque isso possibilita um contacto mais direto com o público. O contacto na Internet é diferente e, se calhar, vimos e depois não vamos voltar a ver, enquanto que se for um suporte em papel está sempre à mão ou guardado e podemos recorrer a ele. Nesse aspeto, acho que o festival perdeu nesse campo, mas se não fosse assim não podíamos ter realizado, manter o nível e até aumentarmos o número de espetáculos.

P – De onde vieram os maiores apoios?

R – Quando falo num orçamento global de 13 mil euros não estou só a referir-me ao dinheiro. Também estou a contabilizar os bens que foram dados. A Reitoria, a par da Fundação Calouste Gulbenkian, foram os grandes apoios do Ciclo e de toda a atividade que o grupo realiza ao longo dos anos. Da parte da Fundação Calouste Gulbenkian o apoio é em dinheiro, enquanto que a Reitoria deu-nos coisas que nos 10 anos em que estou no teatro nunca tinha dado, como o alojamento de alguns grupos nas residências universitárias. Também apoiou na alimentação e na divulgação, como revistas, “flyers” e cartazes.

P – Em termos de adesão do público. Quantos espetadores assistiram aos diversos espetáculos?

R – Não tenho ainda números reais, mas penso que os números serão semelhantes aos de outros anos com uma média de 100 espectadores por espetáculo. Houve uns com mais, outros com menos. Durante os 14 dias houve gente que foi ver todos os espetáculos, o que é muito bom e a única coisa que tinham a dizer era sobre o estado do Teatro Municipal, que está com muito más condições. Chovia lá dentro, estava um frio terrível, houve pessoas que levaram cobertores e nos 14 dias o aquecimento nunca esteve ligado. Acho que isso também nos retirou algum público.

P – Como correu a estreia da peça “Parecia que dançávamos. Tu vestido de príncipe e eu nua”, uma co-produção do Teatrubi e da Asta – Associação de Teatro e Outras Artes?

R – Esse espetáculo foi apresentado nos dias 1 e 2 e começou a ser preparado em outubro do ano passado com ensaios no Teatro Municipal, que nos foi cedido pela câmara, que também é um apoio logístico importante todos os anos. Tem sete alunos da universidade e é a primeira vez que cinco deles estão a fazer teatro. É uma peça na linha dos últimos espetáculos que tenho feito com o Teatrubi e a Asta, com muito pouco texto, é muito pouco convencional e não tem uma linha sequencial lógica. É um espetáculo muito feito também para poder ser apresentado e entendível para quem não conheça o português lá fora, porque temos mais espetáculos em Espanha do que em Portugal.

P – Quantos alunos integram o Teatrubi atualmente? É um número que se tem mantido estável ou tem havido oscilações?

R – O número depende dos anos, das modas e do que está a dar na televisão na altura. Já houve anos em que tivemos muita gente e outros em que foram menos. O “boom” das novelas portuguesas faz com que haja muita gente que quer ser ator sem saber o esforço, o sacrifício e as coisas de que é preciso abdicar, mesmo ao nível universitário. Começamos sempre com um curso de formação, que vai de outubro a dezembro, e a média anda na volta das 20 pessoas, o que é um número demasiado grande para fazer teatro, até pela logística que implica. Essas pessoas fazem a formação, algumas vão desistindo e outras vão até dezembro. Quando chega a essa altura, antes das férias, são colocadas uma série de regras. Quem quer ficar para o espetáculo tem que cumprir determinados horários e requisitos e têm que se comprometer, de alguma forma, a estarem disponíveis para integrar o elenco que vai estar em digressão pelo país e estrangeiro nesse ano. Este ano houve sete pessoas que ficaram disponíveis como atores, mas há outras que, não estando visíveis para o público, estão por trás. Por exemplo, houve dois alunos de Cinema fizeram um vídeo do espetáculo e houve outros ligados ao Curso de Moda que fizeram algumas coisas no guarda-roupa.

Rui Pires

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        maiores eventos da Covilhã»

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