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O cavalo de pau do Sancho Pança

Crónica Política

As notícias correm a uma velocidade superior à da luz.

O que ontem era dado como certo, seguro, caso da estabilidade financeira, é de imediato desmentido…

Um primeiro-ministro assegura e segura a mentira de que não vai haver crise… Não que não há…e das péssimas…

Fala um presidente ausente, um D. Carlos preocupado mais com a caça e os veleiros, aquela do Ministério do Mar… Só lembra a quem não sabe, ou finge saber que foi ele, Cavaco, que acabou com as pescas…..

Depois, os tais “donos” e “senhores” feudais, parasitas sociais, cá do burgo e outros que tais… os banqueiros vieram dizer, alto e bom som, que dinheiro para financiar o Estado…Nada, acabou-se o festim!

Quem manda? Os senhores, os donos…

Sócrates manda chamar o FMI para os calar(?) ou na versão “light” do Cavaco, chamou o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF), tudo o mesmo.

Chame-se o que se quiser…mas vai dar tudo no mesmo…desemprego, cortes abruptos nos salários e nas pensões, tornar o despedimento quase automático e mais barato, privatizar sectores e mais sectores públicos, aumento da idade da reforma, impostos a crescerem…

Ainda se os resultados da fórmula do sistema fossem, realmente, a tábua de salvação para a crise anunciada e sempre negada… Só que não são!

Vejam-se os exemplos da Irlanda e Grécia. Soluções idênticas… resultados? Nenhuns!

Muitos dos “donos”, dos parasitas e dos fazedores das homilias encomendadas, os tais que tudo fizeram para que a «tal crise» arrasasse a vida de milhões, vêm com as frases feitas de que o tal FMI ou FEEF já cá estiveram e não veio mal nenhum ao burgo…Ilusório.

Hoje pagam-se os empréstimos que serviram para tudo, desde o financiamento das parcerias público-privadas, sem custos para os utilizadores – lembram-se? – até aos financiamentos a perder de vista das megalómanas obras, desde as do poder central às camarárias; até aos subsídios para festas e romarias, onde o dever de prestar contas foi sempre mandado às urtigas em prol do proveito e da gula dos bem aventurados do banquete real…, dos “chorudos” vencimentos dos administradores de uma qualquer empresa pública, até à mais rameira das casas de alterne, às indemnizações pelos serviços prestados e dos abusos em proveito e deleito próprio, a tudo o povo foi assistindo atónito, extasiado, e feliz e contente, pagava para uns apostarem nos cavalos. Só que não perceberam que a hora do ajuste de contas chegou e que, afinal, o cavalo do Sancho o “da boa” Pança era tão só de madeira…

Neste momento de FMI, lembro-me e recordo o José Mário Branco:

«(..) entretém-te filho e vai para a cama descansado que há milhares de gajos inteligentes a pensar em tudo neste mesmo instante, enquanto tu adormeces a não pensar em nada, milhares e milhares de tipos inteligentes e poderosos com computadores, redes de policia secreta, telefones, carros de assalto, exércitos inteiros, congressos universitários, eu sei lá!

Hão te convencer de que a culpa é tua e tu sem culpa nenhuma, tens tu a ver, tens tu a ver com isso, não é filho? Cada um que se vá safando como puder, é mesmo assim, não é? Tu fazes como os outros, fazes o que tens a fazer, votas à esquerda moderada nas sindicais, votas no centro moderado nas deputais, e votas na direita moderada nas presidenciais! Que mais querem eles, que lhe ofereças a Europa no Natal?! Era o que faltava! Entretém-te meu anjinho, entretém-te, que eles são inteligentes, eles ajudam, eles emprestam, eles decidem por ti, decidem tudo por ti, se hás-de construir barcos para a Polónia ou cabeças de alfinete para a Suécia, se hás-de plantar tomate para o Canada ou eucaliptos para o Japão, descansa que eles tratam disso, se hás-de comer bacalhau só nos anos bissextos ou hás-de beber vinho sintético de Alguidares-de-Baixo! Descansa, não penses em mais nada, que até neste país de pelintras se acha normal haver mãos desempregadas e se acha inevitável haver terras por cultivar!(..)».

Ouçam e vejam que, de ontem para hoje, só os figurantes mudaram…

Será que mudaram?

Por: Jorge Noutel *

* Deputado na Assembleia Municipal da Guarda eleito pelo Bloco de Esquerda

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