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O carrossel

Editorial

1. Era o dia da FIT. E a presença do primeiro-ministro na abertura da Feira Ibérica de Turismo deveria ter dado para que a Guarda tivesse o prime-time nacional. Ou, pelo menos, merecesse referências e comentários por todo o espectro comunicacional, mesmo que limitadas à presença de Passos Coelho, na Guarda, e a FIT fosse ignorada. Mas Passos Coelho estragou tudo!

O cenário, bizarro e pintado com dose elevada de incontinência verbal e muita leviandade, foi a inauguração de uma queijaria em Aguiar da Beira. Mas a intervenção ainda o foi mais: Passos Coelho elogiou de forma eloquente o esforço dos empresários e, pasme-se, destacou o ‘tóxico’ Dias Loureiro como um modelo de empresário – que, supõe-se, todos devíamos seguir.

Talvez surpreendido pela presença de tão ilustre filho da terra (Dias Loureiro é natural de Aguiar da Beira) o primeiro-ministro não se coibiu de expressar a sua admiração pelo antigo ministro de Cavaco Silva e de enaltecer as virtudes empresariais do ex-administrador da SLN (BPN). A estupefação foi generalizada, e chegou inclusive a militantes e dirigentes do PSD que apanhados de surpresa ficaram atordoados com o despautério do presidente do partido. Como escreveu Manuel Carvalho, no “Público”, «como pôde o primeiro-ministro dar ao país como exemplo um arguido no caso do BPN (absolvido em primeira instância) por suspeitas num negócio que envolve um lobista libanês, uma empresa marroquina e uma tecnológica com sede em Porto Rico que fez desaparecer das contas do banco nada mais, nada menos, do que 40 milhões de euros? É com fórmulas destas que Pedro Passos Coelho quer colocar as novas gerações a vencer na vida?». Ou, como refere noutro contexto Henrique Monteiro, no “Expresso”, os políticos perderam a vergonha e, por isso, Passos Coelho, ele próprio ainda a conviver com as reminiscências da Tecnoforma e a falta de pagamentos à Segurança Social, como tantos outros (incluindo o ex-primeiro-ministro José Sócrates que continua detido, supostamente, por corrupção) fala de forma elogiosa de quem está a contas com a Justiça por prevaricar contra a República – Dias Loureiro foi um dos maiores responsáveis pelo BPN que, entretanto, custou ao país mais de cinco mil milhões de euros.

O dia em que a FIT devia ser notícia, notícia foi a nova queijaria de Aguiar da Beira, não pela qualidade ou características do queijo que vai produzir (que desejamos que seja uma empresa de sucesso), mas por ali termos esbarrado contra a impunidade e a improbidade dos políticos. A casta no seu melhor!

PS: O SMS que António Costa enviou a João Vieira Pereira, diretor adjunto do Expresso, foi um inadmissível ataque à liberdade de expressão e à liberdade de opinião que não posso deixar de salientar. Infelizmente, não é caso único. E por sabermos e sentirmos tantas vezes esse género de pressão e ataque não podemos deixar de criticar esta postura entranhada nos nossos políticos – muito “je suis Charlie”… mas depois é o que se vê.

Luis Baptista-Martins

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