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O caracol e o caranguejo

Bilhete Postal

Eu ando devagar e tu passas a vida a andar para trás! Eu vou lento e tu corres, mas com enorme facilidade regressas do caminho que já fizeste. Eu deixo este melaço de arrasto, escondo-me se me tocam, protejo-me do vento agreste, recolho-me para a casa que carrego e tu fazes muito do mesmo, mas sempre de garras de fora, sempre pronto a agrafar alguém. Não deixas rasto, mas vais e vens e acabas como se estivesses parado. Os dois somos comidos nos pratos das pessoas e ambos somos iguarias. Neste tempo de crise eu vou lento e sereno e tu vais aos rompantes. Eu trilho, trepo e avanço e tu chocas, gritas e dás tesouradas. Eu vou crescendo de folha para folha, pausadamente e encurtando distancias em linhas direitas. Tu já ficaste lá para trás à cacetada nos muros, aos encontrões nas paredes, às tesouradas com colegas, arrasando as energias em manobras vãs. Perdeste-te nesta aventura porque não foste mais racional. Hoje, há que reduzir gestos, reduzir custos, diminuir distâncias, encontrar serenidade na tormenta e procurar se possível sinergias para trilhar um caminho melhor. Como gostava de levar outros caracóis nesta casa, assim só carregava às vezes e era levado nas outras. Tentei um projeto de arquitetura: o caracol de apartamentos, mas não me deu o desenho. Pensei trocar de casa contigo e assim cabíamos cinco caracóis à larga a dividir despesas e esforço. Mas também não deu. Redesenhar os destinos é isso, reinventar o futuro é também isso: criar novas casas ao caracol e fazer um leme ao caranguejo. Não, nada disso é possível e portanto há que trilhar caminhos seguros e levar os meios que sabemos gerir.

Por: Diogo Cabrita

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