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“O Calor aperta…”

Este foi o título do editorial de O Interior de 19 de Agosto de 2010.

Como achei curiosa a forma como a equipa de reportagem de “O Interior” acompanhou o decorrer do combate ao incêndio ocorrido em S Martinho, Trancoso, no passado dia 12 de Agosto, atrevo-me a dizer o seguinte:

1 – É a mais pura das verdades que são “os de sempre” a combater os incêndios florestais, OS BOMBEIROS, mas, raramente, são “meia dúzia”, tal como se verificou no citado incêndio.

2 – Num TO (teatro de operações) há sempre uma fase, normalmente o inicio da actividade de combate, em que se assiste a algum descontrolo, com “veículos para trás e para a frente”. Após a instalação do PCO (posto de comando operacional), verifica-se a uma actuação mais coordenada e mais eficaz, tal como veio acontecer no incêndio de S Martinho, a fita de tempo assim o indica, constatando-se que o incêndio foi considerado dominado cerca das 21H00, passadas menos de cinco horas do inicio da ocorrência.

3 – Para o sucesso da operação contribuíram diversas entidades, desde logo os Bombeiros de Trancoso, Vila Franca das Naves, Mêda, FEB, GNR, Sapadores Florestais, Protecção Civil Municipal, GRIF (grupo de reforço para combate a incêndios florestais) do CDOS de Évora e também a equipa de “O Interior”.

4 – Porque estive no TO desde o inicio, posso dizer que foi um combate árduo, em condições extremamente adversas, rajadas de vento superiores a 30Km/hora, temperatura de 32ºC, humidade relativa de 18%, numa área com mato (giesta) com mais de três metros de altura e em povoamento de pnb (pinheiro bravo) sem qualquer gestão. Falar em “meia dúzia” de voluntários só não é um insulto aos combatentes porque “O Interior” apenas esteve na parte inicial e não assistiu ao desenrolar do combate e muito menos ao trabalho desenvolvido por todas as entidades, para que o flanco esquerdo após ter entrado numa zona de combustível ligeiro, com uma propagação muito rápida na direcção das localidades de Aldeia de Santo Inácio e Souto Maior fosse travado, mas também, evitar que as quintas: Ribeira do Alcaide, Torrinha e Pombais, viessem a ser atingidas pelo incêndio. Quem viveu a aflição dos proprietários das habitações da Quinta da Ribeira do Alcaide, de duas crianças a chorar compulsivamente e contribuiu para as sossegar, bem como aos restantes moradores, fica com a enorme convicção do dever cumprido, quem no final recebeu os agradecimentos dessas pessoas fica feliz, mas, importa dizer que, nas referidas quintas as “pick-up’s” e respectivo pessoal, cumpriram a tarefa que lhes está atribuída no PMEPC (plano municipal de emergência de protecção civil).

5 – Não posso afirmar que “O Interior” tratou o assunto pela rama, porque estou convicto que se tivesse tido a oportunidade de presenciar a totalidade do desenrolar do combate relataria outros factos. Considero importantíssimo o papel da Comunicação Social no noticiar deste flagelo que todos os verões nos atinge a todos, repito A TODOS, mas gostava que “O Interior”, a minha leitura obrigatória das Quintas Feiras, viesse a promover a discussão sobre as prioridades no combate e a respectiva gestão de meios, porque na semana de 9 a 15 de Agosto houve um fortíssimo empenhamento de meios no PNPG (parque nacional da Peneda Gerês), em detrimento do Distrito da Guarda, nomeadamente no Concelho de Trancoso, fortemente atingido por incêndios florestais de 10 a 14 de Agosto, onde o CB (corpo de bombeiros) de Trancoso chegou a ter num TO mais de meia centena de combatentes.

Será que também nesta área temos que pagar os custos da interioridade?

Rogério Castela, Trancoso

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