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O Big Brother de Vila de Rei

«Não será a hora de aceitar que a autarquia errou? Quando a comunicação social nos fala de famílias a passar necessidades, é mais fácil dizer que não se tem responsabilidades. Sabiam ao que vinham. Não querem trabalhar. A selecção é que foi mal feita no Brasil. O povo diz que a culpa sempre morre solteira…neste caso, brasileira!»

Uma casa, 14 pessoas, câmaras de TV, um país inteiro a ver. Depois foi observar como reagiam os indivíduos, como se adaptavam, como superavam as duras provas a que eram sujeitos. Por fim os concorrentes começaram a desistir ou a ser eliminados. Sete já partiram, três estão de malas aviadas. Um verdadeiro reality show com famílias de Maringá, sul do Brasil, numa casa de Vila de Rei.

Acontece que não é um jogo. Falamos de quatro famílias que venderam os seus bem e partiram para Portugal à procura de um El Dorado prometido. Falamos de adultos e crianças que hoje se sentem traídos e enganados. Há relatos de privações. De fome mesmo. Falamos de sonhos, de emoções, de seres humanos. Não falamos de um jogo.

Irene Barata diz que todos eles conheciam as regras. Segundo a autarca de Vila de Rei, eles sabiam que não teriam mais que trabalho braçal e remuneração mínima. Por isso, sente-se magoada e ofendida. Fala de ingratidão. Fala de gente que mostrou humildade para trabalhar no que fosse e arrogam agora direitos que nunca lhes foram dados no papel. Gente que quer empregos e não trabalho. Gente que “não pode trazer eternamente ao colo”.

Mas, olhando para eles, conversando com eles, como eu conversei, é fácil entender que lhe foi prometida outra realidade. Gente com formação, com empregos, não larga tudo para vir trabalhar em limpezas e receber um ordenado mínimo. Não era gente desesperada. Acreditaram em conversas e em palavras nunca vertidas no papel. Por isso se dizem enganadas. Existiu, acredito, uma certa ingenuidade. Estou seguro que não tinham a noção da realidade que iriam encontrar. Devem por isso questionar quem os empurrou para esta aventura – não só os autarcas de Vila de Rei, como os de Maringá.

Acredito que Isilda Barata tivesse a melhor das intenções. Sentiu que a dificuldade em repovoar Vila de Rei lhe exigia ideias inovadoras e arrojadas. Fez uma aposta de risco. Acontece que um líder também precisa de uma equipa capaz de dar corpo a um projecto – planeando, assegurando condições, antecipando eventuais problemas, preparando soluções. Hoje, Isilda Barata pode falar da “oposição da baixa política”, mas a verdade é que deu a cara à luta e foi vítima dos seus soldados… que a deixaram só e perdida, enredada em soluções nem sempre legais.

Não acautelaram coisas simples como lugares nos infantários para duas crianças. E como foi possível que, desde o início, três pessoas vivessem e trabalhassem na Sertã? Não era para repovoarem Vila de Rei? Ou seja, deixou desde o início desvirtuar o processo, por não estarem garantidas condições mínimas. Não será a hora de aceitar que a autarquia errou?

Quando a comunicação social nos fala de famílias a passar necessidades, é mais fácil dizer que não se tem responsabilidades. Sabiam ao que vinham. Não querem trabalhar. A selecção é que foi mal feita no Brasil. O povo diz que a culpa sempre morre solteira…neste caso, brasileira!

Por: João Morgado *

* Director Kaminhos.com

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