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O belo e a mostra

Observatório de Ornitorrincos

No período eleitoral que temos pela frente, o Observatório de Ornitorrincos terá em especial consideração o esclarecimento do eleitorado sobre algumas das questões fracturantes entre esquerda e direita e a forma de fritar pastéis de bacalhau em tardes de nevoeiro.

O primeiro assunto que me parece importante discutir – esperando para isso largas contribuições dos leitores com opiniões, comentários e números de telefone de primas ricas – é a beleza feminina. Juca Chaves, humorista brasileiro, usava nos seus espectáculos a seguinte tirada: “O povo costuma dizer que ‘beleza não se põe na mesa’. Ué, eu não como no chão.” Os leitores inteligentes (e mesmo algum dos que costuma ler esta coluna) poderão estar a perguntar-se a razão da escolha de tal motivo para iniciar esta série de artigos sobre a polarização temática entre esquerda e direita que perpassará de forma premente as eleições vindouras. [Repare agora, caro leitor, como o uso de substantivos, verbos e adjectivos mais eruditos deu ao texto um carácter de seriedade e legitimidade discursiva. Vê? Cá está outra vez. Isto é giro, não é?] A verdade é que este artigo foi escrito na sequência de um debate profundo que decorre da discussão entre o neo-funcionalismo e a segunda geração da Teoria Crítica sobre a reflexividade do sujeito na Modernidade: podem as gajas da Playboy ser consideradas melhores que as mulheres da fruta nos mercados municipais?

Reparemos neste caso particular: a esquerda lyotardiana considera que um par de marmelos de silicone não passa de uma narrativa – podendo mesmo considerar-se uma metanarrativa, nos casos de “grandes narrativas” ou quando estas falam por si mesmas. O desconstrutivismo pós-modernista abalou as consciências quando sugeriu que tudo se deve relativizar e nenhuma verdade existe. Nessa altura, alguns homens casados com pin-ups da época abandonaram o lar e refizeram a sua vida sentimental junto de mulheres como Enyd Blyton ou Elton John, havendo também alguns relatos que dão conta de dois noruegueses que contraíram matrimónio com retratos a óleo de Picasso.

A direita, na sua tradição moderna individualista, não-relativista e assente no princípio da supremacia da natureza sobre o social, considera a beleza como um bem de status valioso, apesar da injustiça da distribuição genética, como se pode ver se compararmos, por exemplo, a Heidi Klum com a Heidi dos desenhos animados. Mas a direita reconhece a injustiça na natureza. Ou será justo que um leopardo esquarteje de forma selvagem e de seguida devore um pobre antílope? É certo que o faz porque tem fome, mas podia pelo menos colocar um guardanapo no colo ou utilizar garfo e faca de carne.

A esquerda discorda da importância atribuída à beleza feminina na sociedade moderna, pois começam também a notar-se preocupantes sinais de casos cada vez mais frequentes de heterossexualidade na comunidade homossexual.

Não cabe aqui discutir se as mulheres de direita são mais bonitas que as de esquerda, até porque há algumas dúvidas sobre a capacidade cognitiva capacitadora da percepção do conceito bipolar entre as candidatas a Miss Universo. É urgente que se discuta a fundo a questão sem tibiezas e sem complexos. Os candidatos a primeiro-ministro nas eleições que se aproximam não só dominam particularmente bem este dossier como têm dedicado parte do seu trajecto pessoal em indagações sobre o assunto. Espera-se por isso um debate esclarecedor, de preferência com brochuras desdobráveis de corpo inteiro a acompanhar os princípios programáticos de cada partido.

EU VI UM ORNITORRINCO

Coligação PSD-CDS

Era uma vez dois amigos que, antes de uma corrida, juraram dar as medalhas um ao outro caso algum deles chegasse à meta em primeiro lugar. Mas parece que foi outro que ganhou. Azar.

Por: Nuno Amaral Jerónimo

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