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“O Assassínio de Inês de Castro” no Jarmelo

Escultura em ferro evocativa da tragédia vai ser inaugurada no sábado, 651 anos depois da morte de D. Inês

Para marcar o encerramento deste ano Inesiano, a Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo promoveu a execução de uma escultura em ferro alusiva ao assassínio de Inês de Castro. A obra foi realizada por um jovem artista da terra e será inaugurada no sábado, cerca das 15 horas, precisamente no trágico dia em que morreu D. Inês.

A escultura pretende recriar o quadro pintado no início do século XX por Columbano Bordalo Pinheiro intitulado “O Assassínio de Inês de Castro”. A ideia de fazer uma escultura em ferro está relacionada com a tradição da arte de trabalhar aquele material nos montes do Jarmelo «e também para assinalar um episódio da história da antiga vila», conta, com orgulho, Rui Miragaia, o autor do conjunto de “estátuas” que representam a trágica cena. O jovem, filho de ferreiro do Jarmelo, transforma os saberes aprendidos na forja com o seu pai e molda o ferro. Um “hobby” que começou por brincadeira e mais tarde se transformou numa arte. Nem queria acreditar quando recebeu o convite para recriar aquela cena histórica: «Estava farto de estar em Lisboa e foi uma forma de escapar àquela rotina por um tempo», adianta o escultor. Por isso, aceitou de imediato a proposta, arregaçou as mangas e deitou mãos ao trabalho. Há cerca de três meses que está nos Donfins a trabalhar na oficina do pai, para ter a peça pronta no dia em que morreu D. Inês. E agora, concluída a escultura, sente que cumpriu «um dos objectivo da sua vida», confessa. A obra é composta por sete figuras de ferro, com cerca de três metros de altura, e foi colocada junto à Casa Museu local.

«Não era o meu local ideal, mas foi o autorizado», esclarece Rui Miragaia, que não se conforma com a nega do IPPAR relativamente à colocação das suas peças junto à muralha do castro. Críticas à parte. O jovem escultor garante que só aceitou o convite por ser natural da terra, pois «é uma obra com um orçamento muito baixo e com muito trabalho», adianta. A escultura é constituída por 15 chapas de ferro de dois metros por um, que foi necessário cortar, soldar e martelar. Foi a primeira vez que realizou um trabalho deste tamanho, pois «está numa escala de um por um e meio, as peças ficam mais alargadas e grotescas», justifica o autor, que se sente orgulhoso «por contribuir para o enriquecimento da história do Jarmelo». O gosto pelo trabalho do ferro nasceu da profissão do pai, ferreiro desde sempre, por isso, aos 5 anos, «já ajudava o meu pai na oficina», recorda Rui Miragaia. Desde pequeno que aprendeu a fazer coisas em ferro e certa vez até fez uns matraquilhos, revela Rui Miragaia.

Ferro e história juntos numa escultura

De maior responsabilidade é a recriação do trágico episódio da vida de D. Inês. Em cena estão o Rei D. Afonso IV, Inês de Castro com dois filhos e, por fim, os três conselheiros, Pêro Coelho, Álvaro Gonçalves e Diogo Lopes de Pacheco. A escultura ainda vai ter uma placa identificativa «com a fotografia do original e um texto explicativo», assegura Isidro Almeida, da Associação Cultural e Desportiva do Jarmelo. Para levar a cabo este projecto de colocar o Jarmelo “no mapa” das actividades do Ano Inesiano são necessários três mil euros, pelo que está a decorrer uma campanha de recolha de fundos. Mas está «muito aquém das expectativas», lamenta o dirigente, que vai continuar a angariar apoios. No sábado, durante a inauguração da escultura, será lido um extracto de “Os Lusíadas” e uma recolha de poemas populares sobre aquele episódio histórico. A ilustração em ferro do acontecimento é uma oportunidade para mostrar a história de Portugal a quem visita o Jarmelo: «Passaremos a ter à vista de todos uma descrição do motivo que levou ao abandono da antiga vila, transformando-a naquilo que é hoje», sublinha Isidro Almeida. Aquela localidade está tragicamente ligada ao assassínio de Inês de Castro. Era dali o fidalgo Pêro Coelho, um dos seus assassinos. Ainda hoje, passados tantos anos sobre esse facto histórico, se continua a explicar que a causa do desaparecimento do Jarmelo se deve à vingança do Rei D. Pedro, que mandou salgar as suas terras.

Patrícia Correia

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