P – Quais os seus projectos para o mandato que agora inicia à frente do Aquilo Teatro?
R – A curto prazo, há duas produções que estão a ser realizadas e, pelo menos, uma delas vai estrear até ao final do ano. Temos também o atelier de expressão dramática, para todas as pessoas que queiram ter um primeiro contacto com a realidade teatral, e estamos a fazer diligências para que a Câmara da Guarda nos dê o espaço situado no andar debaixo das nossas instalações. É uma aspiração antiga do Aquilo, será um espaço alternativo, onde as pessoas poderão vir beber um copo, ouvir boa música e assistir a um conjunto de actividades artísticas. Se se concretizar, esse projecto vai ser muito importante para a afirmação do Aquilo no espectro cultural da Guarda e da comunidade.
P – A vida cultural da Guarda ainda tem espaço para o Aquilo? Dá a ideia de que o grupo passou da ribalta para a terceira fila…
R – Penso que o Aquilo passou de uma fase em que era visível para um papel de menor relevo. É vontade desta direcção inverter isso. Vamos tentar estabelecer parcerias com instituições, colectividades e organismos para desenvolvermos actividades que dêem visibilidade ao grupo e contribuam para a promoção cultural da cidade. Esperamos que as mudanças sejam profícuas e positivas para voltar a colocar o Aquilo no lugar que merece. As pessoas que o compõem são bastante ecléticas, não têm uma visão afunilada da cultura e até podemos voltar aos bons velhos tempos.
P – Que papel pode desempenhar a cooperativa?
R – Ao longo da sua história, o Aquilo sempre deu apoio e condições aos jovens para criarem, apresentarem e concretizarem os seus projectos. Não vejo que isso possa acontecer noutras instituições culturais com tanta regularidade. Os jovens actores e criadores podem ter aqui uma rampa de lançamento, se ambicionarem outros voos.
P – Como analisa a actual vivência artística da cidade?
R – A abertura do TMG veio contribuir para que a vida cultural da cidade saia mais enobrecida e as pessoas participem mais nessas actividades. Não vejo isso como um obstáculo, pelo contrário. O TMG é um centro de oportunidades que pode ajudar, inclusivamente, as colectividades a desenvolverem e a apresentarem os seus projectos.
P – Quais são as maiores lacunas nesse plano e quais as apostas ganhas que se devem manter?
R – As apostas ganhas têm a ver com o conjunto de espectáculos fornecidos pelo TMG, que possibilitam a algumas pessoas o contacto directo com outras realidades culturais. Nas lacunas, talvez ainda haja um grande número de pessoas que não está preparado para esses espectáculos ditos eruditos ou elitistas. Também aí será um contributo do Aquilo e das outras colectividades tentar “educar” o público.
P – Acha que a há muitas “capelinhas” na cidade ou que existe uma posição dominadora da CulturGuarda para fazer e mostrar cultura na Guarda?
R – A CulturGuarda faz o seu papel. Se há capelinhas ou não… Eu gostaria que não houvesse, e acho que trabalhando em rede e em conjunto se conseguem fazer mais coisas e projectos com mais qualidade. Acho que esse é o caminho. Neste momento, trabalhar cada um por si, olhando só para o seu umbigo, não me parece o mais correcto.
P – E isso tem trazido mais benefícios ou prejuízos para o desenvolvimento desta área?
R – Isso remete-nos para questões financeiras. Não sei se pelo facto da CulturGuarda ter o papel que tem prejudicará as colectividades ao nível do financiamento. Falando do Aquilo, que vive fundamentalmente dos subsídios da Câmara, as verbas não são disponibilizadas em tempo útil. Não é fácil tentar cumprir um plano de actividades quando não há fundo de maneio. Depois cria-se um ciclo vicioso: se não há dinheiro, há menos produções e temos menos visibilidade, pelo que é difícil vencer. Mas compreendemos os problemas da Câmara. Tentaremos por todos os meios fazer com que o Aquilo, mesmo com essas dificuldades, se projecte e desenvolva.
P – Acha que a cisão de cooperantes ocorrida há pouco tempo foi benéfica para o grupo? O que ganhou ou perdeu o Aquilo?
R – Não sei se o Aquilo ganhou ou perdeu. É um facto que nesta fase tivemos menos visibilidade, não vale a pena negar. Como tudo na vida, as cisões e os conflitos são causa de mudança e uma alavanca para que as instituições se refundem – aqui apenas num sentido metafórico – ganhando ânimo com outras pessoas. Só apanhei a cisão na parte final, mas parece-me que foi mais por motivos pessoais que por outra coisa, e sobre isso não posso falar. As pessoas que saíram são de elevada craveira artística e, ao perder esses elementos, perdemos criativos e um pouco da criatividade do próprio grupo. Mas temos por cá gente capaz e bastante eclética nas diferentes linguagens artísticas, o que nos dá muita confiança para que o Aquilo apresente sempre trabalhos com qualidade.