Arquivo

O amor ou a pluma ou o pão

O amor em julho vem e deixo de escrever. Com o amor por perto como menos, não necessito de pão. O amor atraca aqui em julho trazendo um alimento diferente e assim eu escrevo sobre coisas diferentes e não aquelas coisas que lhe escrevo quando não está e não mando. Tenho uma gaveta de cartas que não escrevo em julho. Textos de agosto a junho. E não como num mês inteiro em que me encho de amor. O amor vem em julho e sabe-me a pão. A pluma de tinta morre naqueles dias e é com uma esferográfica Waterman que encho páginas de textos ferozes, outros feios, ainda alguns demasiado crus. Deito tudo fora enquanto o amor se despe. Deito tudo na tinta enquanto o amor afaga. O tempo de agosto a junho é de pluma e de muito pão. Como desalmadamente, até me sentir gula a devorar carcaças. Como o de milho, o de centeio, o com passas, o com amêndoas. Vai tudo para me compensar enquanto não vem. Eu que escrevo tanto desato a escrever as coisas que sem ele não escrevo. Digo onze meses do amor e quando ele vem amo e escrevo das antipatias, das hostilidades. Compenso tudo e assim me liberto. Liberto o amor que espera, liberto a pluma que descansa e não como pão libertando-me dos quilos a mais. É o amor que aí vem.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply