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O amanhã dos nossos será aquilo que nós deixarmos

Crónica Política

Há sempre alguém que diz não, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que, coerentemente, entende que não há momentos que se podem desperdiçar para relembrar quem são os verdadeiros responsáveis do nosso empobrecimento, mesmo no nosso dia, Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas.

Já agora relembro que o então primeiro-ministro, e agora PR, Aníbal Cavaco Silva não sabia quantos cantos tem “Os Lusíadas”. Relembro que graças ao 25 de abril acabou-se com o Dia da Raça, este último epíteto criado pelo fascista Salazar, mas parece que andam por aí os saudosistas do regime fascista, não só pela aparência, mas sobretudo pelas suas práticas políticas e têm os lacaios que se servem do regime.

Não podemos dar tréguas àqueles que infernizam o nosso presente e o futuro dos nossos filhos e netos. Este Governo está a destruir a vida de quem trabalha, seja na administração pública ou no setor privado. Exigir a demissão deste Governo é por cobro aos ataques ao interior, com o emagrecimento dos serviços públicos, em que se penaliza os mesmos de sempre.

É bom recordar 1977. Eu era uma criança, mas lembro o mar de gente que recebeu o PR na Guarda sem o espartilho da segurança e os constrangimentos na mobilidade na cidade, ainda tínhamos quartel na Guarda, alguém se questiona quem foram os responsáveis no desaparecimento do quartel? Alguém se recorda quem são os responsáveis pelo abandono de parte do quartel? Não podemos ter memória curta e desresponsabilizar os governantes, estes que estavam presentes na cerimónia militar do 10 de junho, por sinal os mesmos governantes que atacam as forças armadas, são os mesmos das famílias políticas que se apressaram a apagar o papel do MFA na revolução de Abril. Não podemos e nem devemos apagar o percurso da revolução de Abril, os partidos da “troika” são os mesmos que na primeira revisão constitucional apagaram os esteios do Conselho da Revolução.

Haja frontalidade na ação política, não devemos escamotear o papel dos principais responsáveis pelo que está a acontecer a Portugal e, por isso, foi o local adequado para protestar contra os cortes nos salários e pensões, a tremenda carga fiscal, o agravamento dos horários de trabalho e demais condições de trabalho de quem trabalha. Dou um exemplo, alguns dos meus colegas do serviço de Urgência do Hospital Sousa Martins trabalham há 21 dias seguidos, sem folgas, para assegurar as dotações mínimas no serviço. Entretanto, o Governo não dá aval ao Conselho de Administração para recrutamento de mais enfermeiros, protela a decisão no tempo. Há poucos nos serviços e demais no desemprego, muitos deles, enfermeiros formados na Escola Superior de Saúde da Guarda, que têm que emigrar.

Se o dia 10 de Junho é também o dia das comunidades portuguesas, esta crónica política também é sentida para com os meus colegas que emigram, bem como milhares de outros jovens qualificados com o esforço financeiro dos seus pais e também do erário público na sua formação. Outros países, como a Alemanha, Reino Unido ou França, usufruem do nosso esforço. Afinal, onde está a Europa Social e solidária que apregoam?

Não podemos ficar impávidos e serenos a assistir à verborreia política de alguns mas que apoiam aqueles que decidem o encerramento de mais escolas do 1º ciclo – no nosso distrito serão mais de sessenta. Não podemos deixar de denunciar os violentos cortes orçamentais na educação, na saúde e Segurança Social.

Este governo, PSD/CDS, aprovou novos cortes, mais 6.700 milhões, até 2019. Não compreendo que o povo que sofre alinhe com aqueles que queiram calar a denúncia e o protesto, mas não o conseguirão.

No Dia de Portugal, como em qualquer outro, não há razão para que os portugueses calem o protesto, eventualmente por, nesse dia, sermos todos iguais e irmãos, porque não é assim. Relembrar a história é não hipotecar o futuro. Com o ímpeto do dever patriótico, que foi exacerbado no regime fascista, milhares de jovens perderam a vida numa guerra colonial injusta. Hoje, não nos podemos calar com um Governo que se ajoelhou perante o capital e explora quem trabalha.

Por: Honorato Robalo

* Dirigente da Direção da Organização Regional da Guarda do PCP

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