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O Alastrar da Crise

Paul Krugman, último Nobel da economia, preocupa-se com Espanha, num blogue alojado no site do New York Times. Espanha, diz ele, é uma espécie de Florida da Europa, em que acaba de rebentar a bolha imobiliária inflacionada pelos residentes e pelos compradores de casa de férias. O problema é que a bolha imobiliária da Florida pode ser mitigada à custa do orçamento federal, e das contribuições dos estados menos afectados pela crise, e a crise em Espanha tem de ser resolvida intramuros. Outro problema é que à Espanha, como integrante da zona Euro, está vedado o recurso às políticas monetárias tradicionais de relançamento da competitividade da economia como seja por exemplo a desvalorização da moeda. Assim, pergunta Krugman, que pode a Espanha fazer para tornar a sua economia mais competitiva? Muito simples, mas muito difícil, diz ele: os salários devem baixar.

Diz-me um amigo, há pouco regressado dos Estados Unidos da América, que os bancos desenvolvem uma nova estratégia para minorar os efeitos da crise do imobiliário. O incumprimento dos créditos hipotecários tem levado os bancos a tomar posse de milhões de propriedades. Estas, tanta é a oferta e tão baixa é a procura, não conseguem vender-se, mantendo presentes todos os seus encargos e mais um: é que os prédios devolutos pagam impostos sobre imóveis mais altos do que os ocupados. Por isso, perdida a esperança de recuperar o capital e pretendendo evitar a continuação dos custos, os bancos estão pura e simplesmente a demolir casas, milhões delas. É a correcção da bolha do imobiliário pela terraplanagem. Há quem anseie, por motivos apenas estéticos, que se comece a fazer o mesmo na Guarda: várias zonas da cidade, das Lameirinhas ao Bairro da Luz, da Sequeira ao Bairro de São Domingos, apenas poderiam melhorar com uma política de demolições inteligente, mas é melhor não seguirmos esse caminho.

Isto tudo não passa de um maneira de dizer que temos em perigo, ao mesmo tempo, os nossos empregos e as nossas casas. Conforme se sucedem os dias, sucedem-se também as notícias de encerramento de empresas, de início de processos de despedimento colectivo ou de suspensão de contratos de trabalho. Ao mesmo tempo vamos concluindo que os sectores mais em crise, os da construção civil e da indústria automóvel, são precisamente os que constituem o motor da economia e aqueles cuja falência pode causar mais dano. Entretanto, os nossos políticos parecem não se entender quanto à melhor saída para a crise: baixar (irresponsavelmente) impostos ou investir (irresponsavelmente) em obras públicas faraónicas? Não se vê solução para tanto problema mas uma coisa parece desde já certa: não vale a pena emigrar para Espanha.

Por: António Ferreira

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