Arquivo

O 25 de Abril e os Apagões da Memória

Opinião

No passado 25 de abril de 2011, comemoraram-se mais 37 anos de democracia em Portugal. Seria fastidioso relembrar tudo o que de bom o povo português alcançou com a revolução dos cravos, mas, não posso deixar de realçar uma conquista, que considero muito significativa, a liberdade de expressão. É nesta que se centra a verdadeira essência do ser humano. Somos diferentes de todos os outros animais, por muitas razões, mas, fundamentalmente, por esta. Temos capacidade de raciocínio e devemos saber usá-lo, em prol de um mundo melhor, mais justo e civilizado.

Infelizmente, nem todos pensam assim, ainda vivemos num mundo, onde certos líderes, usam e abusam dos seus poderes, discriminando aqueles que têm opiniões próprias ou discordantes das suas. Esquecem-se que é nas ideias divergentes que muitas vezes nasce a luz e a diferença, quantas vezes, para melhor. Um sistema de atuação que se baseie unicamente na opinião do líder, tende para a entropia, logo para a autoliquidação.

Continua a ser necessário lembrar abril de 74 e manter viva a conquista da liberdade de opinião. Ninguém pode ser prejudicado só porque pensa de forma diferente.

Trinta e sete anos depois, até mesmo nas escolas, que deviam ser verdadeiras guardiãs do pensamento livre, há situações de marginalização, só porque se opina de forma divergente à do professor, e este, também é “marcado” quando discorda ou critica o seu chefe. Sejamos verdadeiros construtores de abril, saibamos honrar os homens e mulheres que lutaram por tudo isto, escondidos, perseguidos e amordaçados. A eles, tudo era proibido, não podiam cantar, falar e muito menos escrever. Só lhes era permitido dizer bem do chefe, repetir as suas palavras e replicar a sua escrita, mesmo sendo plágio.

Foi para lembrar tudo isto que, na Escola Profissional de Trancoso e por iniciativa das professoras da disciplina de português, se evocou o 25 de abril de 1974. Na cerimónia, alguns oradores convidados, lembraram esses tempos de obscurantismo e fizeram o contraponto para a maravilha que é, vivermos hoje em liberdade. Uma plateia de alunos e professores, ouviu-os com atenção e pôde refletir sobre muitas questões tratadas na palestra.

A escola, cumpre assim, o seu dever de passar a mensagem às gerações vindouras, ajudando-as a formarem as suas próprias opiniões, não condicionando o seu pensamento, abrindo caminhos para uma sociedade multicultural, esclarecida e capaz de tomar as suas próprias decisões sem necessitar de ir a reboque de líderes sem escrúpulos e sedentos de poder.

É por tudo isto, que digo sempre aos meus alunos para estudarem, libertando-se assim, de pessoas que os queiram condicionar, explorar ou manipular tal como marionetas no teatro. Uma boa escola, ensinará sempre para a diferença, o valor humano, a liberdade e o pensamento sem barreiras.

Sabermos aceitar as opiniões dos outros, ainda que, discordantes das nossas, é um ato de democracia e de grande elevação cívica.

Viver Abril

O dia 27 de Abril foi o escolhido para relembrar a Revolução dos Cravos de 1974.

A Escola Profissional de Trancoso teve a honra de receber ilustres convidados, que viveram estes tempos de forma activa e até de forma participativa.

Dr. António Oliveira, Presidente da Direcção, abriu a sessão comemorativa que daria início às palestras do dia.

Dr Amaral Veiga, estudante na Faculdade de Direito em Lisboa na época dos acontecimentos apresentou o seu testemunho, tal como o Sr. José Brinquete, Responsável pela Organização do PCP de Bragança. A historiadora da Câmara Municipal de Trancoso, Dra Carla Santos e a Dra Emília Tracana, professora desta escola, asseguraram os trabalhos que encerraram este dia tão emblemático para toda a comunidade escolar. Salienta-se, ainda, a participação activa dos alunos que declamaram e cantaram as músicas de cantores da Revolução.

Afinal, temos de comemorar Abril todos os dias e valorizar o que tantos homens conseguiram trazer para o nosso presente e para o nosso futuro!

Por: Hermínio Albino – Docente da EPT

O 25 de Abril e os Apagões da Memória

Sobre o autor

Leave a Reply