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«Nunca esperei ser Bispo»

Cara a Cara – António Moiteiro

P – Como é possível um padre de uma paróquia do interior chegar a Bispo Auxiliar da Diocese de Braga?

R – A nível da Igreja, é claro que nós somos interior mas a questão de eu ser Bispo ou não, não está em sermos do interior do país ou do litoral. A questão está na escolha que o Papa faz e neste caso optou pela minha pessoa depois de um processo longo de análise do que se foi fazendo. É por aí que devemos ver a nomeação.

P – Que requisitos é necessário ter para chegar a Bispo auxiliar?

R – Há três requisitos no Código de Direito Canónico, que são ter mais de 35 anos, ter, pelo menos, cinco anos de ministério sacerdotal, ou seja, ser padre há cinco anos, e ser formado nalguma das disciplinas eclesiásticas. Esses requisitos concretizam-se em mim, mas em muitas outras pessoas. Ter sido escolhido para Bispo foi uma proposta que, depois das consultas feitas, deu positivo e o Santo Padre escolheu-me nesse sentido.

P – É muito habitual um padre ser logo nomeado Bispo auxiliar?

R – O que não é muito comum no nosso país é um padre ser nomeado Bispo presidencial. O que é comum é um padre ser nomeado Bispo auxiliar.

P – O que representa para si ter sido nomeado Bispo auxiliar de Braga?

R – O ser Bispo implica que eu tenha consciência que sou um dos sucessores dos apóstolos. Enquanto auxiliar de Braga, a Arquiodiocese de Braga é muitíssimo grande, tem quase um milhão de católicos, cerca de 500 sacerdotes, mais de 500 paróquias e exige no governo da Diocese, para além do Arcebispo primaz, que é o Bispo presidencial, dois Bispos auxiliares e como o anterior tinha sido transferido para Lamego, escolheram-me a mim para poder fazer o trabalho na Diocese, em colaboração com o Arcebispo primaz.

P – A sua cerimónia de ordenação no domingo vai ser um momento de emoção?

R – O importante foi a ordenação sacerdotal. Quando nós fazemos a opção de seguir a nossa vida na disponibilidade construirmos o reino de Deus no sacerdócio. Agora, podemos dizer que a ordenação episcopal, o ser Bispo nunca se espera, eu nunca esperei ser Bispo, mas vai ser um momento, pelo menos, de profunda espiritualidade e de profunda comunhão com Deus.

P – Já sabe quando vai assumir funções na Diocese de Braga?

R – Sim. Em princípios de setembro já estarei ao serviço da Diocese de Braga. Para a Paróquia de São Vicente e Sé foi nomeado na semana passada o Padre Alfredo Pinheiro Neves. O vice-reitor do Seminário do Fundão que virá substituir-me e tomará posse no dia 9 de setembro.

P – Quais vão ser as suas tarefas em Braga?

R – As tarefas na Diocese de Braga são essencialmente a visita pastoral e depois coadjuvar o Arcebispo no governo da Diocese, mas é, sobretudo, a visita pastoral às paróquias. Vou ficar com a zona norte da Diocese. Dos vários arcipestrados com os quais eu estou mais diretamente responsável, vou ter quase 300 paróquias.

P – Há muitos anos que exercia funções na Diocese da Guarda. É difícil partir para outra região com exigências diferentes?

R – Implica uma coisa fundamental, que é conhecer. Qual é a disponibilidade que tenho neste momento? Conhecer a realidade do Minho, a realidade daquela gente e depois tentar ajudar em duas vertentes, na formação cristã e na ajuda a formarmos comunidades cristãs onde o evangelho possa ser vivido.

P – O que é que leva da Guarda?

R – Tenho de recordar que os meus 30 anos de padre passei-os na Guarda e nas paróquias vizinhas. O que levo é a amizade de muita gente e o trabalho que fui fazendo ao longo deste tempo e a disponibilidade que as pessoas sempre manifestaram em corresponder às iniciativas que fomos tomando a nível das paróquias. Levo uma grande amizade das pessoas da cidade.

P – Gostaria de voltar um dia como Bispo da Diocese da Guarda?

R – Essa pergunta não a ponho a mim mesmo porque isso não me compete a mim. Eu vou na disponibilidade de ser Bispo Auxiliar em Braga, fazer o melhor que puder e ajudar na Arquidiocese de Braga. Esse é o meu trabalho e vai ser essa a minha disponibilidade para trabalhar. O futuro a Deus pertence, mas esse problema não se me põe neste momento.

António Moiteiro

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