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Nunca é tarde para continuar a aventura da vida

Opinião – Ovo de Colombo

O Centenário que Fugiu pela Janela e Desapareceu é a primeira obra escrita pelo ex-jornalista e produtor de televisão sueco, Jonas Jonasson, que tendo começado como um simples exercício de escrita se transformou num fenómeno internacional de vendas em mais de 25 países. Humor negro, personagens insólitas e situações improváveis fazem deste romance uma narrativa hilariante que leva o leitor a não querer parar de ler.

A história começa quando a personagem principal, Allan Karlsson, decide fugir do lar de idosos em que se encontra, para evitar a celebração do seu centésimo aniversário que contará com a presença do Mayor e da imprensa da pequena cidade em que vive. De chinelos de quarto nos pés e sem qualquer plano delineado, Allan salta pela janela e foge em direcção à estação de camionetas, dando início a uma viagem picaresca que envolve criminosos, assassinatos, o roubo de uma mala cheia de dinheiro e uma polícia incompetente.

Paralelamente a esta linha narrativa assistimos a uma outra viagem pelo passado desta personagem que, ao longo da sua vida, foi encontrando e conhecendo várias e imponentes figuras históricas pelos quatro cantos do mundo. Considera-se apolítico e ateísta mas cultivou amizades com presidentes, ditadores, líderes mundiais, tendo involuntariamente desempenhado um papel fundamental em momentos chave da história do século XX. Terá participado na criação da bomba atómica, contribuído para abortar o plano do assassinato de Winston Churchil e provocaria, ao lado de Richard Nixon, a situação que levaria ao escândalo de Watergate.

O entrelaçamento do passado com o presente contribui, desta forma, para nos dar uma visão alargada da vida incrível e rocambolesca vivida por este centenário, que sobrevive às mais inimagináveis aventuras ao mesmo tempo que, inadvertidamente, vai mudando o curso da história. E é a partir da vida caótica e experiente do velho Allan que assistimos a uma visão satírica dos acontecimentos que marcaram o mundo, ao longo de um século, e que são aqui apresentados como resultado de uma aleatoriedade absurda.

O tom humorístico com que o autor habilmente interliga os factos históricos com uma ficção excêntrica e a observação perspicaz, acutilante e intemporal da sociedade fazem desta obra burlesca a leitura perfeita para estas férias de Verão, pela capacidade de nos fazer viajar pela história ao mesmo tempo que nos faz rir.

Cristina Caramujo*

*Licenciada em Línguas e Literaturas Modernas pela Universidade de Coimbra

**A autora optou por escrever de acordo com a antiga ortografia

Sobre o autor

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