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«Número de partos não será o único nem o primeiro factor a ter em conta»

Critérios que ditam o encerramentos das maternidades vão ser definidos no sábado entre a CNSMN e as ARS do Norte e Centro

Os parâmetros que ditarão quais as maternidades a encerrar serão discutidos no próximo sábado, numa reunião em Lisboa entre a Comissão Nacional de Saúde Materna e Neonatal (CNSMN) e as Administrações Regionais de Saúde (ARS) do Norte e Centro do país. Apenas estas duas ARS entrarão nesta discussão, visto que é nestas zonas que existe o maior número de serviços em risco.

A informação foi avançada a “O Interior” por Jorge Branco, que coordena a comissão criada no âmbito de um estudo encomendando pelo anterior Governo e que Correia de Campos pretende continuar. Os critérios técnicos que orientarão o ministro da Saúde na decisão do eventual fecho das maternidades apenas serão definidos «com rigor» durante o próximo sábado, mas Jorge Branco já adiantou a “O Interior” que o número de partos «não será o único nem sequer o primeiro» critério a ter em conta. «É apenas um factor, mas não vai ser seguramente este que vai ditar o encerramento de maternidades acima ou abaixo do quadro», acrescentou. No entanto, se uma maternidade realizar apenas cem partos por ano e tiver outros hospitais a uma curta distância de tempo, «não fará sentido ficar aberta, mais vale juntá-las e racionalizar os recursos humanos, materiais e económicos para criar uma maternidade com um maior número de partos», exemplificou. Além disso, e com um maior número de partos, os profissionais poderão adquirir mais experiência nesta área e transmitir mais segurança às parturientes.

Para Jorge Branco, também director da maternidade Alfredo da Costa, em Lisboa, a segurança no parto para a mãe e para o bebé deve ser o «principal e primeiro critério a ser ponderado». Outros critérios que estarão em cima da mesa no sábado, e que poderão constar do relatório final a ser entregue ao ministro, terão a ver com a distância entre as maternidades de uma certa zona. O facto do CHCB ser um hospital que agrega uma Faculdade de Medicina também é «um factor importante» a ter em conta, mas que «não será decisivo».

Maternidades da região ainda por analisar

Para já, os hospitais e os políticos podem respirar de alívio, visto que as três maternidades da Beira Interior ainda não foram sequer analisadas nesta primeira fase por uma questão de «logística», assegurou Jorge Branco. Isto porque há que ter também em conta «o factor cultural» da região, ou seja, antes de apontar para uma determinada decisão, a comissão terá que ter «uma ideia exacta» dos interesses da população. «Não sei se as pessoas gostam mais de se deslocar para Norte ou para Sul. Temos que saber a sua preferência quanto à eventual deslocação do parto», refere o médico. Isto porque o estudo não pretende «violentar as pessoas, mas atender às suas necessidades», insiste, considerando «natural» que alguns dos parâmetros que vierem a ser determinados possam vigorar nesta região.

No entender de Jorge Branco, não fará sentido existirem três maternidades «relativamente perto em termos de distância», pois o número de partos que as alimenta é «diminuto e há falta de médicos e enfermeiros especialistas para responder às necessidades», aponta. Mas caso haja o eventual encerramento de uma ou duas destas maternidades, não há motivo para alarmismos, pois «a única coisa que irá mudar é o local de parto», desdramatiza o coordenador da CNSMN já que o apoio à grávida durante o período de gestação continuará a ser feito nos hospitais de origem. Um assunto que poderá não ser consensual na região em termos políticos. Recorde-se que, em Outubro, alguns autarcas do distrito de Castelo Branco e da zona do Pinhal repudiaram o eventual encerramento da maternidade do Hospital Amato Lusitano. Na Covilhã, Carlos Pinto também já afirmou não concordar com o encerramento daquele serviço no Centro Hospitalar da Cova da Beira. O mesmo acontecendo na Guarda, onde Joaquim Valente espera que o Governo «não se atreva» a tomar tal decisão.

Liliana Correia

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