Arquivo

Num lugar imaginado

Construia uma calçada de quadros que gostava, criava uma piscina com peixes dentro, um aquário onde fosse possível nadar, uma sala de escalar no “hall” de entrada, um campo de jogos na sala comum, uma biblioteca como a de Mafra, uma escada como na livraria Lello. Nada uniforme, nada padronizado. Queria uma porta de cada autor, um texto por dentro, um relevo de fora. Um escultor para cada maçaneta. Os tetos tinham que ter pinturas, ou madeiras em formas bizarras, ou formas de louça, como nos quartos do Escorial. As paredes desta casa moviam-se, o chão rodava para que víssemos um fora diferente em cada dia. A vista da janela mudava como nos restaurantes giratórios. Tudo isto queria com o dinheiro do meu emprego, sem ter de roubar. Mas assim quanto tinhas de receber? Acorda menino que estás a delirar. Paracetamol em supositório atua mais depressa, disse a mãe ao chegar. Mas o menino chegou ao poder e um dia fez a casa que tinha sonhado com o dinheiro que se tinha oferecido de ordenado. O poder corrompe e o menino assim se descobriu. Infame sonho que assim te destruiu.

Por: Diogo Cabrita

Sobre o autor

Leave a Reply