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Novos fármacos

Mitocôndrias e Quasares

O objetivo do desenvolvimento de novos fármacos é melhorar as possibilidades terapêuticas. A situação ótima dá-se quando a nova substância permite o tratamento de uma doença para a qual até então não existia tal possibilidade. Contudo, na maioria dos casos, temos que nos conformar com o poder melhorar uma terapêutica já estabelecida.

O ponto de partida da investigação farmacológica é a procura de uma substância que, em princípio, surta o efeito desejado. Os produtos deste tipo descobrem-se por casualidade, por intuição ou mediante uma procura sistemática. Em certas ocasiões, os efeitos secundários descobertos por medicamentos conhecidos, levam ao desenvolvimento de substâncias “guia”. As substâncias naturais, como os metabolitos, produzidos pelo metabolismo, utilizam-se muitas vezes neste sentido.

Muitos dos novos caminhos terapêuticos devem-se à causalidade. O desenvolvimento dos diuréticos, por exemplo, sofreu um impulso decisivo ao descobrir-se, por acaso, que um composto de mercúrio com o qual se estava a tratar um paciente afetado por uma doença venérea, quadruplicava e quintuplicava a secreção de urina!

Outros caminhos resultam de sinergias entre duas áreas do conhecimento próximos. Um exemplo desta situação é a farmacogenética que resulta da trabalho da farmacologia com a genética. Os estudos realizados nesta área permitem estabelecer relação de causa-efeito entre algumas doenças que surgem nos indivíduos e a informação genética dos mesmos. A área onde a farmacogenética tem realizado maiores investimentos é no desenvolvimento de “medicamentos individualizados”, isto é, em medicamentos que sejam produzidos para combater uma doença específica num determinado indivíduo. Esta nova forma de medicina personalizada assenta numa avaliação genética de cada indivíduo de forma a identificar qual o gene responsável pela anomalia que mais tarde a terapia farmacológica procurará corrigir. Estes medicamentos poderão ser aplicados no tratamento de uma grande variedade de doenças, desde as menos graves até às mais complicadas, onde se destacam o cancro da mama ou a doença de Parkinson, que se julga terem uma origem genética.

É por este motivo que a sequenciação de todo o padrão genético humano constituirá um avanço tecnológico fulcral para melhorar o bem-estar e a qualidade de vida do homem.

O debate que começa a surgir levanta questões como as consequências da utilização da farmacogenética nas desigualdades sociais, ou ainda, quais medidas que deverão ser tomadas para salvaguardar a confidencialidade das informações genéticas dos pacientes. Estes e outros aspetos irão ser alvo de discussão e reflexão nos próximos 20 anos, intervalo de tempo que esta nova tecnologia demorará a chegar ao cidadão.

Por: António Costa

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