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Novos e velhos tempos da fruta

A colheita da maçã da Cova da Beira está a terminar, na Beira Alta a apanha da castanha anima os fins-de-semana

Nos pomares da Quinta dos Lamaçais, em Caria, o sol nem sempre aquece as manhãs de Outono. A paisagem pinta-se de verde e vermelho, porque ainda há maçãs por colher. Entre as fileiras de árvores, pequenos grupos percorrem as macieiras e colhem as últimas maçãs da campanha. Vermelhas, Golden, Fuji e Bravo de Esmolfe são algumas das variedades prestes a partir para as grandes superfícies do país.

Para muitos fruticultores da região, esta é a última semana da “apanha”, que começou no início de Setembro. Paulo Parente, engenheiro agrícola na Quinta dos Lamaçais, diz que «este ano correu melhor», tendo-se registado um ligeiro aumento da produção. Não adianta números, porque a colheita dos cerca de 40 hectares de macieiras ainda não está terminada. Nesta quinta, como noutras da Cova da Beira, os tempos trouxeram novas formas de colher. Mulheres e homens já não carregam as pesadas caixas de madeira. Os grupos, que ainda estão a trabalhar, dividem-se agora por diferentes métodos de colheita. Numa fila de árvores, duas mulheres apanham as maçãs mais altas, auxiliadas por uma máquina. A fruta cai, devagar, directamente nos “palotes” que o tractor levará depois. Este é o “grupo do ar”. Mais adiante está o “grupo do chão”, cujos elementos colhem as maçãs e colocam-nas nos “palotes”. No “pico” da colheita «são cerca de 50 pessoas na “apanha”», explica Paulo Parente. Esta semana, resta pouca gente.

Dulce Ferreira, 47 anos, também sente estas manhãs frias na pele. Com mais cinco pessoas, colhe maçãs a uns quilómetros de distância, já na freguesia de Belmonte, numa quinta com cerca de três hectares. Começou quando tinha 15 anos para «juntar algum dinheiro». E agora continua a colher pelo mesmo motivo: «Eu gosto de trabalhar nos pomares. É um trabalho que se faz bem», acrescenta. Quando começou, era tudo mais duro, porque «as macieiras eram mais altas e tínhamos de carregar a fruta em caixas de madeira», recorda. Na quinta onde trabalha fazem sobretudo colheitas tradicionais, ou seja, a pé. Quando terminam, os tractores vêm recolher as maçãs. A fruta que Dulce Ferreira colhe é comercializada sobretudo em venda directa, ao contrário do que acontece na Quinta dos Lamaçais, que vende essencialmente para grandes superfícies. Quanto aos números da produção, Dulce diz que este ano «talvez se tenha colhido um pouco menos».

Resistir no campo

Nos pomares da Boidobra, Gonçalo e Gaia, trabalha Francisco Manuel, de 42 anos. A vida do campo é sua há 28. Trabalha para uma empresa que cultiva macieiras, pessegueiros e pereiras. Durante o Verão, trata das podas e deita as caldas. Nesta época colhe as frutas. «É um trabalho duro que nem sempre dá», lamenta-se. Segundo este fruticultor, o negócio já não é o que era: «Há dez anos era melhor, hoje levam o produto e só pagam conforme vão vendendo», explica. Aqui, a colheita da maçã está praticamente terminada e os números não animam. «Tivemos um pouco menos este ano, cerca de 200 toneladas de diferença», refere. Os temporais e as doenças das árvores são os maiores inimigos de quem trabalha no campo. «Todos os climas, a gente apanha-os aí», garante Francisco Manuel. No entanto, todos resistem. «Estamos aqui a suportar, à espera do que o amanhã poderá dar», confessa o fruticultor.

Em Videmonte, também há macieiras a crescer. Alcides Coelho, 61 anos, tem cerca de 200. Este ano ainda estão muito novas e deram pouca fruta. Na pequena aldeia do concelho da Guarda, é a castanha que anima as tarde de Outono. Com as estradas rodeadas de castanheiros, as famílias aproveitam os fins-de-semana para a apanha. «Em Videmonte, não se varejam castanheiros. Espera-se que o ouriço caia», explica o produtor. A “longal”, “a martaínha” e a “casta” são algumas das variedades que a freguesia produz. «A melhor é a mais pequena, a casta», esclarece. No café junto à igreja matriz, Maria de Lurdes, 55 anos, recorda que «a maior riqueza» de Videmonte era a castanha. «Vinha muita gente de fora para comprar, hoje já não. Estão cá os intermediários e o resto vendemos por aqui ou damos», adianta. António Martinho, 65 anos, confirma: «Tenho cerca de 100 castanheiros, antes vendia perto de mil quilos, este ano se fizer 400 já é bom», garante.

Catarina Pinto Nos grandes pomares, utiliza-se sobretudo maquinaria para colher maçãs mais altas

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