A nova rede de transportes da Guarda, implementada na semana passada, regista várias melhorias, mas, ainda assim, está a causar desconforto em alguns dos habituais passageiros. As alterações nos horários e na localização das paragens dos autocarros são as principais queixas apresentadas. As condições atmosféricas adversas verificadas na semana passada atrasaram a adaptação ao novo modelo, que a Câmara e a Rodoviária da Beira Interior (RBI), empresa concessionária, admitem melhorar.
«A paragem ficava mesmo à minha porta e não faz sentido terem-na mudado para um sítio» que está longe da zona residencial «onde há mais moradores que andam de autocarro», sustenta Rosa Valente, moradora na Rasa que está descontente com as mudanças trazidas pela nova rede de transportes urbanos. Este bairro periférico à cidade deixou de ter qualquer paragem da rede urbana de transportes e os seus residentes têm agora de apanhar o autocarro na EN16. Outro residente da Rasa, António Camilo, explica que «as pessoas mais pobres do bairro não têm carro e dependem do autocarro para se deslocarem e esta distância faz-lhes muita diferença», diz.
Também no Bairro de Nossa Senhora de Fátima outra paragem foi retirada e deslocalizada para um local mais afastado do núcleo principal de moradias. «Faz-me muita diferença porque a paragem estava mesmo aqui no meio das casas e agora temos que fazer um grande desvio a pé», lamenta Madalena Martins. Para Ana Santos, esta alteração «não tem lógica nenhuma», defende. A moradora lembra que «muitas crianças apanhavam ali o autocarro e agora torna-se difícil chegarem a tempo à escola», conta. De resto, os alunos têm sido – ao longo desta primeira semana de utilização da nova rede de transportes – dos mais queixosos. Aluna do 11.º ano da Secundária da Sé, Maria João Marques refere que o autocarro onde seguia diariamente partia às 7h50, o que dava tempo aos alunos de chegarem à primeira aula da manhã. «Agora é às 8h05 e chegamos à escola às 8h30, mesmo em cima da hora ou com alguns minutos de atraso», lamenta.
O mesmo acontece à hora de almoço, em que o autocarro passou a sair do Bonfim às 14h05, 25 minutos antes do começo da aula da tarde, quando antes tinha transporte às 13h40, cinco minutos depois de terminar a última aula da manhã. «Vou ter que deixar de ir almoçar a casa», assegura. As dificuldades mantêm-se na parte da tarde, onde «os autocarros passam um minuto depois das horas de saída», refere a aluna. Ana Cardoso também se tem sentido «muito prejudicada» pelas alterações. A estudante da mesma escola conta que na segunda-feira «o autocarro estava cheio e não parou». A jovem dirigiu-se à Câmara e à RBI para fazer a reclamação, num dia em que estavam na autarquia guardense «cerca de 40 pessoas a reclamar», conta.
Quanto a esta situação, a vereadora guardense Elsa Fernandes lembra que devido ao mau tempo da semana passada, «não foi possível ser logo feita uma avaliação geral da situação». A responsável explica que o autocarro lotado na segunda-feira se ficou a dever ao facto de ter sido «o primeiro grande dia de transportes urbanos na Guarda e porque algumas pessoas ainda se regem pelos horários antigos, pelo que houve um fluxo anormal de passageiros», mas sublinha que «houve desdobramento de horário no dia seguinte». Relativamente à zona da Rasa, Elsa Fernandes lembra que «a alteração permite-nos que o mesmo autocarro chegue mais longe, nomeadamente à Escola Carolina Beatriz Ângelo – onde não chegava -, sendo que a Rasa estava a ter um fluxo de utilização de transportes públicos muito reduzido», lembra, reforçando que «o objectivo é servir o melhor possível o colectivo, em detrimento do particular». Já os habitantes do bairro de Nossa Senhora de Fátima podem dormir descansados. «Trata-se de uma paragem que, erradamente, foi retirada do local onde estava, situação que será corrigida ainda esta semana», garante. «As pessoas têm que ter alguma paciência e terem a noção que este não é um processo final. Todos acreditamos que estamos a fazer o melhor possível, haverá correcções e estamos receptivos a sugestões», assegura.
«As pessoas querem autocarros à porta de casa à hora que precisam»
«O objectivo foi conceber uma rede de transportes lógica e mais moderna, servindo zonas que estavam mal servidas ou onde nem sequer passavam autocarros», refere Luís Salvador, da RBI. Na primeira semana de utilização da nova plataforma, reconhece que «o mau tempo ajudou a que se verificassem alguns atrasos nos primeiros dias e não pudemos verificar os problemas a “afinar”, para se corrigir tudo o que é necessário». O responsável assegura, no entanto, que «as redes de transportes são mesmo assim, necessitam de ser utilizadas para se melhorarem, apesar de ter sido tudo testado antecipadamente». Luís Salvador revela que, «há um ou dois horários que têm que ser ajustados e mais algumas alterações a fazer, nomeadamente em hora de ponta, porque o trânsito na Guarda está caótico, até porque as pessoas só conhecem a VICEG nos dias de neve e para dizerem que não está limpa», critica. Considerando que «as pessoas querem autocarros à porta de casa à hora que precisam», garante que «ainda esta semana, algumas questões, como os horários próximos das oito da manhã, vão ser corrigidas».
Rafael Mangana