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«Nós é que estamos a financiar as obras Polis»

Consórcio ARL/Abrantina continua sem garantias de pagamento de mais de um milhão de euros nas obras do centro histórico

Um cêntimo de diferença impediu, no final da semana passada, que a comissão de acompanhamento do Programa Operacional de Ambiente tomasse uma decisão sobre as facturas em atraso nas empreitadas Polis da zona histórica da cidade, apurou “O Interior”. Aquele organismo esteve reunido na última quinta-feira, mas o assunto nem sequer foi abordado, para desespero dos responsáveis do PolisGuarda, que, na véspera, tinham reenviado o dossier devidamente fundamentado. O caso irritou sobremaneira o consórcio ARL/Abrantina, que reclama mais de um milhão de euros desde Março de 2005.

«Nós é que estamos a ser os financiadores das obras Polis», denuncia Jorge Leão, porta-voz dos construtores que estão a trabalhar na requalificação da Praça Velha e de algumas ruas adjacentes, dizendo não entender a atitude dos «tecnocratas de Lisboa». O empresário continua sem «quaisquer garantias» de pagamento e espera que a visibilidade dada ao assunto nos últimos dias ajude a resolver um impasse que não percebe. «O problema não é com o PolisGuarda, mas com quem não liberta o dinheiro, apesar de ter toda a documentação e comprovativos necessários para o fazer», acusa Jorge Leão. A expectativa está agora numa reunião agendada para meados de Abril: «Se continuar a não haver nenhuma garantia, então tomaremos uma posição de força», avisa, até porque o consórcio já teve que reforçar, esta semana, o “factoring” junto da banca. «As piores expectativas são sempre ultrapassadas», lamenta o engenheiro, que admite «alguma solidariedade» com o dono da obra, não sem antes avisar que a paciência tem limites. «Parar os trabalhos é uma medida extrema, mas pode acontecer se não houver decisões rapidamente», avisa.

Uma possibilidade que não vem nada a calhar numa altura em que as obras na Praça Velha estão praticamente finalizadas, após a conclusão, esta semana, do pavimento até junto à escola de Santa Clara. Mas os contratempos não faltaram numa intervenção iniciada em Outubro de 2004. A nova Praça Velha, idealizada pelo arquitecto portuense Camilo Cortesão, já devia estar pronta há seis meses, mas alguns imprevistos têm-se intrometido sistematicamente no seu curso. No início de 2005, a descoberta de ossadas humanas e de alguns artefactos motivaram a intervenção do Instituto Português de Arqueologia, mas também a primeira paragem dos trabalhos. Vieram depois os protestos dos comerciantes face aos sucessivos adiamentos da sua conclusão. 2005 foi mesmo um “annus horribilis” para quem trabalha naquela zona. Passaram-se Junho, Setembro, Novembro e Dezembro e o negócio caiu a pique. Fartos de serem responsabilizados pelos atrasos, os empreiteiros devolveram as acusações e defenderam-se com o argumento de que os trabalhos só não avançavam mais rapidamente por causa da pressão dos comerciantes. Agora, é a burocracia que pode fazer das suas.

Luis Martins

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