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No trilho dos icnofósseis de Penha Garcia

GAIA

por Elsa Salzedas*

Nos dias 5 e 6 de novembro, integrada numa saída de campo da Conferência GEOescolas, mergulhei nos oceanos Paleozoicos, de há 480 milhões de anos, época em que a região era um vasto mar de águas pouco profundas, situado sobre o equador. Foi uma viagem sem precedentes, aqui perto da Guarda, em Penha Garcia, vila ladeada por Monsanto e Monfortinho.

Nascida do espírito da união e da partilha de objetivos, a Naturtejo é a entidade que promove o Geopark Naturtejo da Meseta Meridional, pertencendo à Rede Europeia de Geoparques, apoiada pela UNESCO. A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), que ainda há pouco reconheceu o Fado como património imaterial da humanidade, tem promovido nas áreas da ciência e tecnologia, pesquisas para orientar a exploração dos recursos naturais. Outros programas importantes são os de proteção dos patrimónios culturais e naturais, no qual se integra este Geoparque, que constitui um território com limites bem definidos, de interesse geológico, socioeconómico e cultural, onde a proteção e promoção do património geológico abraça o desenvolvimento sustentável local.

Penha Garcia também pertence à humanidade, como tal pertence a todos nós, erguendo-se assim cimeira, em cristas quartzíticas, rochas metamórficas, das mais antigas encontradas em território nacional, que guardam uma impressionante coleção de fósseis e icnofósseis de trilobites – Artrópodes que habitaram os mares no planeta desde há 480 milhões de anos até há 250 milhões de anos, altura da sua extinção. Estes fósseis de Penha Garcia só têm paralelo na Bolívia, embora aí menos preservados.

Assim, esta área reveste-se de importância extrema para os amantes da ciência de todo o mundo. Neste vale estão registados 400 metros de sedimentação e cada nível pode compreender várias dezenas de milhares de anos de História Natural. Quando percorremos o desfiladeiro do vale encaixado do rio Ponsul e olhamos para as arribas que o envolvem, é como se folheássemos um livro de História Natural, onde as marcas das trilobites contam como elas eram, como viviam, de que se alimentavam, como evoluíram e como se extinguiram. Toda esta história é contada primeiramente num pequeno museu interativo em Penha Garcia e posteriormente ao longo de um fabuloso trilho, que nos leva então à viagem pelos Paleoambientes destes seres primitivos, já extintos, onde se pode ainda observar marcas de ondulação que o mar por lá deixou.

Assim, constitui um belo e interessante passeio em família com uma primeira paragem no fabuloso e moderníssimo Museu de Idanha-a-Nova, onde uma interessante exposição sobre a exploração mineira local, que tem registos desde a Idade do Ferro, nos permite um olhar simultâneo ao passado mineiro e às potencialidades do futuro desta região, onde se explorou ouro, prata, estanho, volfrâmio, chumbo, zinco, fósforo e barite.

A viagem deve prosseguir para Penha Garcia, apreciando a fabulosa paisagem, onde num imenso horizonte se destacam alguns relevos como o cabeço de Monsanto, escolhida em 1938 como “aldeia mais portuguesa de Portugal”.

A visita convida ainda à degustação de diversas iguarias gastronómicas. A Cultura enriquece e o País agradece. Simplesmente fabuloso.

*professora de Biologia

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