P – Porque decidiu recandidatar-se à presidência da Adega Cooperativa da Covilhã depois de não ter surgido nenhuma lista candidata em maio?
R – Nessa altura não apresentámos lista, não porque não pensássemos em fazê-lo mas porque havia algumas questões que estávamos a tentar resolver e que não tinham tido ainda o desenvolvimento que pretendíamos. Entretanto, não podíamos continuar nesta situação, tínhamos que legitimar a nossa posição na Adega e essa foi a razão pela qual se marcaram as eleições para esta data, que já está um pouco em cima das vindimas. Contudo, penso que ainda vem a tempo de prepararmos de forma conveniente o melhor momento de uma adega cooperativa, que é a receção das uvas.
P – Ficou satisfeito com a votação registada (26 votos a favor e nove brancos)?
R – Fiquei, até atendendo ao facto de só ter havido uma lista. Houve duas possibilidades de surgirem listas alternativas e não surgiu nenhuma.
P – Quais são as suas prioridades para mais um mandato de três anos?
R – A principal é recuperar associados, uns que têm saído e outros que não têm entregue as suas uvas, isto porque neste momento estamos a ter uma procura bastante interessante de vinho. Ainda não é propriamente a procura que desejamos de vinhos engarrafados, embora também tenhamos alguma, principalmente para exportação, mas está a surgir outro mercado com algum interesse de vinhos a granel a um preço interessante e para o qual neste momento receio não termos condições para satisfazer a procura. Nesse sentido, é necessário recuperar, de facto, uma parte dos associados, dando-lhes condições também para eles poderem regressar.
P – A venda de vinho a granel continua a ser importante para a Adega?
R – Não tem sido, não temos vendido vinho a granel e vamos vender agora algum. Para já, até é mais uma forma de realizar um fundo de tesouraria para pagar uvas. Vamos pagar agora na campanha, logo que os associados entreguem as uvas, 10 cêntimos por quilo e depois vamos assumir o compromisso de pagar mais duas tranches, que será a diferença em função também do tipo de valorização que as uvas tenham. O que prevemos é pagar essa diferença em março do próximo ano e o restante em março de 2014. É assim que funcionam as Cooperativas, só fazemos a liquidação e o acerto de contas um ano e meio depois, mas para isso necessitamos de ter volume, coisa que até aqui não tinha interesse porque o vinho a granel era vendido muito barato e, muitas vezes, pelo preço a que era vendido, não se conseguia pagar as uvas. De momento, está a aparecer um negócio com mais algum interesse,pois alguns exportadores procuram-nos diretamente para esse efeito e outros, embaladores e engarrafadores, pretendem vender vinhos relativamente baratos mas estão a valorizar um pouco mais o seu preço.
P – Está confiante que os associados possam regressar e trazer mais uvas?
R – Tenho essa expetativa. Vamos escrever-lhes, como fazemos habitualmente, mas desta vez estamos a antecipar-nos um pouco para que as pessoas tomem as suas decisões e para que não vendam as uvas, como tem acontecido várias vezes. Essa carta vai explicar como vai funcionar a vindima, os planos de pagamento e dar a conhecer também os próprios órgãos sociais da Adega, porque pouca gente esteve na Assembleia e a maior parte das pessoas não saberá quem somos.
P – Qual é a atual situação financeira da Cooperativa?
R – O grave problema que continuamos a ter é a dívida bancária e aí também estamos neste momento expectantes relativamente a um projeto que apresentámos à banca. A Caixa de Crédito Agrícola do Fundão já manifestou alguma recetividade e fez uma proposta que representa uma certa melhoria das condições quando comparadas com as que temos, mas ainda não fechámos o acordo por completo. Estamos à aguardar pelas respostas do BCP e da Caixa Geral de Depósitos. Basicamente, o que pedimos foi melhores condições em termos de “spread”, de amortização e tempo. Precisamos de mais tempo para amortizar porque a dívida, de facto, é muito grande.
P – Qual é o montante da dívida neste momento?
R – Anda na ordem dos dois milhões de euros. É o valor que a Cooperativa tinha quando entrámos. Houve algumas mudanças, pagaram-se alguns créditos, contraíram-se outros e estamos mais ou menos na mesma.
P – Ainda há campanhas por saldar?
R – Há. Temos um resto de 2008 que iremos pagar certamente no final do ano e espero também mais alguma tranche de 2009. Já foi pago cerca de um quarto, esperamos liquidar mais alguma coisa e, durante o mandato, temos a expetativa de pagar a totalidade destas uvas e não ter atrasos relativamente às novas campanhas, que serão a nossa prioridade. Quanto às atrasadas, pedimos aos associados que tenham um pouco de paciência e vamos fazer um esforço para pagar durante estes três anos, mas na prática o que está em dívida, se tivermos boas campanhas, acaba por ser só uma porque houve pequenas campanhas em, pelo menos, dois anos que foram muito fracos.
P – A aposta na internacionalização tem estado a resultar?
R – Ainda não é o que necessitamos, mas posso dizer que no primeiro semestre exportámos tanto como em todo o ano anterior, o que já é um bom sinal. Neste momento estamos a exportar para oito países e certamente que este semestre irá correr ainda melhor. Estamos a tratar de uma exportação para o Brasil e há diversos contactos e também algumas saídas previstas para apresentarmos os nossos vinhos nalguns países. Estou convencido que, até ao final do ano, iremos vender mais do que no primeiro semestre, que já foi melhor do que no passado.
P – A intenção é então intensificar essa aposta neste novo mandato?
R – Sim, claro. A preocupação diária de todas as pessoas que estão envolvidas na área comercial é exportar, sem dúvida.
P – Quais são as expetativas para esta campanha de vindimas?
R – Penso que a campanha deste ano será boa e seria melhor se chovesse qualquer coisa. Está a haver algum stress, algumas vinhas precisariam de ser regadas e nem em todos os casos isso pode acontecer, mas, de uma forma geral, as uvas estão boas. Para já, a qualidade é muito boa, não têm doenças e está tudo muito bom. No entanto, as vindimas estão muito atrasadas. Na carta digo que o seu início poderá ocorrer a partir de 17 de setembro, isto atendendo à média, mas, pelo estado das uvas, se não chover provavelmente nem nessa altura será. Quando muito poderão vindimar-se os brancos e os tintos serão algum tempo depois.