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«No contexto atual, a agricultura será para muitos uma oportunidade de criação do próprio negócio»

Cara a Cara – Ricardo Nabais

P – Como surgiu o projeto Gesterra?

R – O Gesterra nasceu de uma ideia apresentada no Concurso de Ideias de Negócio + Ideias Guarda, promovido pela Guarda+ Social, no qual foi distinguido com o primeiro prémio. Na génese do projeto, está o facto do interior do país sofrer com a desertificação e com o envelhecimento da população, que resulta no abandono dos terrenos agrícolas. A população migra ou emigra, os agricultores mais velhos perdem as forças, e os terrenos ficam ao abandono por não haver quem os cultive. Contudo, percebe-se que, por um lado, há terrenos abandonados que precisam ser cultivados e pessoas que os podem ceder, alugar ou vender e, por outro, pessoas que precisam e gostariam de ter um terreno que pudessem cultivar e que lhes proporcionasse alguma sustentabilidade. O projeto Gesterra procurará constituir-se com uma espécie de “elo de ligação” entre estes dois públicos distintos.

P – Quais são os seus principais objetivos?

R – Trata-se de um projeto que visa a criação de bolsa de terrenos e gestão de terrenos abandonados, e que tem como missão promover o desenvolvimento local e rural, fomentando a agricultura, propiciando as práticas agrícolas e a preservação da floresta. Os principais objetivos passam pela diminuição do número de terrenos abandonados, incentivo da prática agrícola, criação de oportunidade de trabalho para os mais jovens e para os desempregados, e o desenvolvimento da venda de produtos naturais.

P – Estamos a falar de um projeto que ganhou o primeiro prémio no Concurso de Ideias de Negócio + Ideias Guarda. Qual a importância desta distinção?

R – Esta distinção foi o arranque do projeto. Depois de ganhar o concurso, o Gesterra passou de uma ideia a prática. Com o prémio, vou criar uma empresa para concretizar essa ideia, e reunir com os vários parceiros que constituem a plataforma do prémio, como por exemplo a associação Pró-Raia, o Nerga, entre outras entidades que me vão ajudar a impulsionar o arranque deste projeto.

P – Como funciona este conceito?

R – O projeto Gesterra funciona através da sua bolsa de terrenos que permite que as pessoas disponibilizem os seus terrenos e que outros manifestem interesse em os tratar. O serviço é disponibilizado através de um site, no qual são disponibilizados os terrenos. Há uma Bolsa de Terrenos, que reúne ofertas de terras, inscritas pelos seus proprietários, e uma Bolsa de Interessados, onde quem procura terrenos para cultivo se inscreve. Todo o processo é concretizado online através da Plataforma, pois há um serviço de chat que permite uma comunicação instantânea entre quem disponibiliza o terreno e quem o pretende tratar. A equipa do Gesterra pode visitar os terrenos e ajudar a escolher que tipo de uso dar aos mesmos, assim como dar apoio técnico para quem se está a iniciar na agricultura.

P – O projeto já está ativo?

R – O projeto já existe online desde julho do ano passado. Após ter ganho o prémio, comecei a constituir uma equipa de trabalho e a reunir materiais de divulgação, para que o possamos chegar ao máximo possível de pessoas residentes no concelho da Guarda. O projeto está ainda em fase de implementação, sendo por isso necessário ir até junto das populações. A comunicação social, nesta fase de arranque tem sido uma preciosa ajuda na divulgação deste negócio. Quanto à empresa, será constituída quando tiver uma bolsa de parceiros para trabalhar.

P – É possível que, no atual contexto de crise e desemprego, haja uma procura crescente da agricultura como forma de ultrapassar as dificuldades, em concreto por parte dos mais jovens?

R – Acredito que sim, e este projeto faz sentido também acreditando nessa realidade. No contexto de crise em que nos encontramos, as pessoas não têm emprego e a agricultura será para muitos uma oportunidade de sustentabilidade e de criação do próprio negócio.

P – E qual o destino final dos produtos criados nos terrenos de gestão do Gesterra?

R – Os produtos criados nos terrenos sob gestão do Gesterra destinam-se a venda no comércio tradicional local e população em geral. A venda dos produtos é concretizada também, através de uma loja online, e de forma direta em algumas mercearias locais.

Ricardo Nabais

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        muitos uma oportunidade de criação do próprio negócio»

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